sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A sabedoria de viver a vida sem tédio - Parte 1


O que é tédio? Tédio é o sentimento de interpretar a vida como uma sucessão enfadonha dos mesmos fatos de sempre. É aquele sentimento de quem já experimentou muito da vida e não tem mais nada que experimentar. O tédio reclama: “já vi”, “já fiz”, “já experimentei”, “já sei”. Tédio é um Déjà vu deprimente. O tédio é a mesma repetição de sempre que leva o fastio da mente e das sensações, experimentando o mesmo de sempre para chegar sempre no mesmo lugar previsível e repetitivo de sempre. 

Como vive uma pessoa que interpreta a vida como uma rotina de fatos sem nenhuma novidade, cuja única expectativa é ver hoje o que já viu ontem? Como vive uma pessoa que está com tédio? A banda de rock brasileiro Biquini Cavadão cantou uma música chamada TÉDIO¹ que responde essas perguntas assim:


O tédio nos leva a olhar para o relógio e interpretar a agenda de nossas vidas como uma sucessão de fatos sem sentido nem propósito. O tédio produz uma monotonia depressiva que nos veste de pijama o dia inteiro e nos aprisiona em casa. O tédio é uma doença que muitos ainda não encontraram remédio. O tédio nos enterra no quarto escuro da depressão. Tédio é olhar para a vida e não ver nem ouvir nenhuma nova notícia. Tédio é o drama de muita gente que vive uma rotina monótona de repetir tudo outra vez todos os dias. O tédio pode nos levar ao suicídio. Talvez seja uma ironia divina, mas quando eu estava no meu trajeto de meditar e escrever sobre o tédio fui chamado urgentemente para orar por uma mulher ferida no hospital após ter tentado se suicidar por sentir o tédio de viver. Realmente, o tédio pode nos matar. Tédio é um lento suicídio existencial. 

Nossa geração vive “A ditadura do novo” que fabrica um tédio doentio em nossa atual geração como fonte para a produção da fome existencial que exige novidades sempre. E é exatamente sobre isso que o livro do Eclesiastes começa falando. Ele começa a descrever a vida como uma sucessão contínua de processos repetitivos.

1. Tédio da vida: “Geração vai geração vem...” (Ec 1:4). Podemos perceber que a vida é uma eterna sucessão de nascer, crescer, amadurecer, reproduzir, envelhecer e morrer. Todas as gerações seguem o mesmo ciclo. E o mesmo destino nos aguarda. Todos os dias pessoas nascem e morrem para virarem estatísticas do IBGE. Imagine um médico obstetra registrando quantos partos ele fez durante sua carreira. Imagine um funcionário de cartório fazendo mais um registro de nascimento ou de óbito. Imagine um coveiro trabalhando em mais um enterro. Para eles, geração vai e geração vem. E a vida continua. É a vida como ela é.

2. Tédio do dia a dia: “Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo” (Ec 1:5). O sol nasce e volta ao seu lugar. Tudo outra vez para sempre. Todo dia tudo é sempre igual: manhã, tarde e noite. A cronologia das 24 horas do dia é a mesma desde o início da contagem do tempo. Os meses do ano são imutáveis. Todas as estações do ano são as mesmas e previsíveis na mesma ordem: Primavera, verão outono, inverno. O tempo é sempre o mesmo. Não há tempo novo na rotina do trajeto do sol. Isso é semelhante a um atleta correndo numa pista circular ou um hamster preso em sua gaiola correndo infinitamente numa roda. A rotina da agenda diária é igualmente cíclica para todos nós. Tanto o relógio biológico quanto o relógio social ditam o mesmo ritmo para todos. Acordar, trabalhar e dormir foram sempre o circuito fechado e fixo da rotina de tédio. Quem escapará da prisão do tédio do dia a dia?

3. Tédio da natureza: “O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr” (Ec 1:5-7). Aqui é descrito o vento soprando em seus circuitos sem propósito. E as águas despejando-se nos mares, sem jamais encontrar um fim para suas tarefas. Enfim, quem contempla o vento e os rios perceberá que percorrem a mesma rotina em sua trajetória. O vento nunca se cansa de se movimentar nem os rios se fartam de correr nem jamais conseguem encher o mar. O tédio também alcança os movimentos da natureza.

4. Tédio dos sentidos: “Todas as cousas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem enchem os ouvidos de ouvir” (Ec 1:8). O corpo está cansado de sentir as mesmas sensações. E olhos de ver as mesmas cenas todos os dias. E os ouvidos de escutarem todos os barulhos, ruídos e sons de sempre. O tédio nos conduz a enxergar sempre os mesmos cenários de rotina e a ouvir os mesmos sons de repetição. Quem nunca sentiu fastio da mente e sentidos do corpo e da alma?

5. Tédio na história: “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma cousa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós”. (Ec 1:9-10). Os historiadores dizem que a história humana é cíclica e repetitiva a cada geração. Não há nada novo. Não há uma nova notícia que nunca ninguém ouviu antes. É assim mesmo: “Leio o jornal que é de ontem, pois pra mim, tanto faz”. As notícias dos jornais são as mesmas, só mudam de endereço. Enfim, o tédio surge quando lemos a história de nossas vidas sendo xerox da história da vida. Isso tudo nos conduz a pensar sobre o tédio que há nas relações humanas. Apesar da diversidade da identidade humana, as pessoas podem copiar e repetir atitudes, comportamentos e maneirismos. Há pessoas que falam os mesmos assuntos, tem os mesmo problemas, contam as mesmas histórias, riem sempre das mesmas piadas, suas conversas não passam de uma ladainha insuportável, repetitiva e copiada.

Você está experimentando um tédio existencial nesse atual momento de sua vida? 

Como ter a sabedoria de viver a vida vencendo o tédio?

Para não ficar entediante esse texto paro por aqui e continuamos na próximo : )

Até a próxima!

Em Cristo, em quem nunca há tédio

Jairo Filho 

Sugestão de Leitura: Kivitz, Ed René - O livro mais mal-humorado da Bíblia - Ed Mundo Cristão, 2009, 222 págs.


[1] Composição: Álvaro Prieto Lopes, Bruno Castro Gouveia, Miguel Flores da Cunha e Sheik.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails