sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Meu discurso: Aula da Saudade - Turma de 2005 - FLAM.


Além de aprendermos a falar de Deus – o objeto-sujeito do discurso teológico – durante esses quatro anos, temos aprendido que as pessoas precisam de Deus e as pessoas precisam de pessoas para serem pessoas. Isto significa que a plena realização humana se dá quando há relacionamentos entre as pessoas. Isso acontece, porque cremos que Deus se manifesta como uma trindade de pessoas iguais em sua essência divina e não existe solitariamente; ele é sempre a comunhão de três pessoas divinas. E isso é a base e o reflexo de nossos relacionamentos humanos e comunitários.

Disso surge o triângulo relacional: eu, Deus e o próximo. Isso implica dizer que a plena realização humana está no relacionamento com Deus e com o próximo. O ser humano será mais humano à proporção de sua capacidade desenvolvida de tornar-se uno com o próximo, quando, esquecendo-se de si mesmo, doando a si mesmo, descuidando de si mesmo e concentrando seus pensamentos para além de si mesmo, ama o próximo como a si mesmo.

Hoje é dia de celebração. Hoje é dia de celebrarmos o amor phileos de nossos amigos. Hoje é dia de celebramos a amizade de Deus e de nossos amigos. Essa celebração acontece porque a amizade é a beleza da vida, é o motivo de nossa sobrevivência existencial na comunidade. É o prato principal do banquete da vida como expressão mais elevada do amor humano. Por isso, nós celebramos nossa amizade construída todo esse tempo em que vivemos juntos. E nossa convivência juntos foi construída e curtida por momentos de lágrimas e risos, dores e prazeres, tristezas e alegrias, sofrimentos e felicidades, fé e incredulidade, coragem e medo. Enfim, momentos vividos na medida certa para a promoção de nossa saúde emocional e maturidade cristã.

Esses momentos de crises existenciais foram o palco do encontro da nossa amizade com Deus romper com nossa individualidade. Porque a nossa alma tem dimensões que ninguém é capaz de compreender, lágrimas que não se explicam pela lógica e dores impossíveis de serem compartilhadas e que ninguém é capaz de suportar; e crises existenciais de fé, pelas quais não há empatia possível pra consolar-nos. Nessas horas, a amizade de Deus toca o terreno sagrado de nosso coração para romper nossa solidão existencial e formar nossa identidade singular e particular com a sua amorosa presença em nosso coração.

A presença amorosa da amizade de Deus é o espelho de nossas alianças que fizemos nas interações e convivência com nossos amigos. Esse tempo de convivência juntos foi o cenário para nossas amizades serem construídas. Nossas amizades extrapolaram e ultrapassaram os desapontamentos e fraquezas da convivência. Na verdade, nossas amizades venceram o desejo doentio, imaturo e infantil de tentar mudar o outro. Nossas amizades celebram quem somos, independente do que fazemos ou do que deixamos de fazer. Nossa amizade é o palco para o amor incondicional que aceita o outro como ele realmente é e que abre espaço para a transformação.

É impossível esquecer daquelas noites mal dormidas nos labirintos das crises existenciais, da solidão que assalta nosso coração, da saudade da família e das tristezas e incertezas do amanhã. Mas também, nunca iremos esquecer daquela mão estendida, do consolo do ombro amigo, da empatia que carrega nossos fardos, e da amizade que une nossos laços de amor. Nunca vamos esquecer que a nossa amizade foi a nossa maior força que nos impulsionou a continuar até o fim de nosso curso.

E hoje chegou o fim de nossa jornada juntos. Há quatro anos, nossos caminhos se encontraram pela primeira vez na semelhança de nossa vocação. Nossa vocação nos trouxe para o mesmo lugar e nos uniu para o mesmo propósito. Foram anos que juntos desenvolvemos nossa vocação a serviço do Reino de Deus. Aprendemos que nossa vocação se realiza com nosso serviço a Deus no mundo e se estende e aponta para as pessoas.

Chegamos aqui unidos pela nossa vocação. E hoje saímos daqui unidos pela nossa amizade e pela nossa vocação. Guardamos na memória e no coração a nossa convivência aqui e a mesma vocação que nos uniu um dia e que marcou nossas vidas de uma vez para sempre. E a saudade será uma ilustre testemunha dos nossos momentos juntos e do nosso amor.

E é por isso que celebramos hoje nossa vocação e amizade. Hoje é dia de celebração. É dia de festa e muita alegria. Por isso, celebremos juntos a nossa vitória e amizade.

A Deus toda a glória pela nossa amizade. Amém!

Jairo Filho - Escrito no dia da minha formatura em 03 de Dezembro de 2005 na Faculdade Latino Americana de Teologia Integral

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