quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Igreja da Multidão


Em Mateus 16: 13-20, Jesus faz duas perguntas aos seus discípulos: A primeira pergunta é: “Quem diz o povo ser o Filho do homem?” Jesus queria saber o que o povo pensava dele; ou seja, qual a identidade que o povo atribuía a Jesus? E a segunda pergunta foi: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” Jesus agora quer saber o que os seus discípulos pensavam dele? Porque toda relação com o outro surge a partir da identidade que lhe atribuímos, independente se essa identidade atribuída corresponde ou não com a identidade assumida pelo outro. Estas duas perguntas nos levam a perceber que Jesus considera dois tipos de pessoas: a multidão e o discípulo. Jesus quer saber qual sua reputação diante do povo e como é visto o seu caráter diante dos seus discípulos. Disso, surgem duas igrejas: A Igreja da Multidão e a Igreja dos Discípulos.

Para a primeira pergunta é respondido que o povo atribuiu ao Senhor Jesus a identidade de um grande profeta, e comparavam Jesus aos marcantes profetas no passado de Israel: Elias, Jeremias e João Batista. Ou seja, Jesus está na mesma categoria e nível de identidade dos profetas e nada mais que isso. O povo errou a identidade de Jesus. Porque o povo tinha um relacionamento distante de Jesus. Na verdade, o povo nem sabia quem era Jesus e nem se importava com sua verdadeira identidade, porque buscavam exclusivamente os milagres que podiam receber de Jesus. O povo sempre estava perto de Jesus somente para buscar milagres, tanto que, certa vez, Jesus teve de orientar os discípulos a ter um barquinho à disposição caso ele fosse comprimido pelo povo que buscava seus milagres (Mc 3.9,10). Podemos chamar esse ajuntamento em torno de Jesus de A IGREJA DA MULTIDÃO. Esta igreja não conhece quem é Jesus e nem quer conhecê-lo, mas só sabe e só se importa em saber como extrair o máximo do poder de Deus para resolver seus problemas. E quais as características da igreja da multidão?

1. A igreja da multidão acredita que Jess é apenas mais uma opção de poder e milagre. Jesus era visto pelo povo como mais um semelhante a João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas (Mt 16: 14). Para muitos, Jesus não passa de mais um curandeiro poderoso, mais um deus no roll das divindades, mais uma opção na prateleira de abençoadores. Ou seja: A multidão enxerga Jesus como mais um e nada mais. Ou, na melhor das hipóteses, Jesus é considerado o maior de todos, mas nunca será o único. Por isso que temos hoje em dia há um ciclo de pessoas que encontram Jesus e logo em seguida passam para outros deuses opcionais. Ou, adicionam Jesus a sua lista de homens de Deus, curandeiros, divindades, anjos e espíritos protetores e evoluído. A igreja da multidão está aberta ao sincretismo religioso quando relativiza a identidade de Jesus aderindo uma fé genérica, subjetiva e idólatra. Mas não podemos esquecer que Jesus é singular: “Está e a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste”. (Jo 17:3).

2. A igreja da multião vê para crer ou só crê se ver. No deserto, o Diabo disse para Jesus: “Se és filho de Deus, ordena que estas pedras se transformem em pães”. (MT 4:3). O Diabo duvida da identidade de Jesus e insinua que Jesus provará que é Deus se fizer um milagre. No monte do calvário, pendurado na cruz, Jesus escuta o eco das dúvidas do Diabo na boca do povo. “E o povo estava li, olhando. E as autoridades o ridicularizavam, dizendo: Salvou os outros, então salve a si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus. Os soldados também zombavam, e aproximando-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo”. (Lc 23:35-37). Assim, a igreja da multidão tem origem no Diabo, porque tem que vê para crer, ou crê se ver. A verdadeira fé não se alimenta de milagres extraordinários, visíveis e paupáveis. O povo de Israel cansou de ver milagres quase todo dia; mas, mesmo assim, se tornou mimado, murmurador, birrento, incrédulo e idólatra. A igreja da multidão tenta Deus quando tenta provar sua existência e poder através da operação de milagres diante do público incrédulo. Além do mais, a mesma multidão de crentes que vê os milagres de Jesus, logo em seguida, rejeita suas palavras com incredulidade. A mesma multidão que recebe Jesus com louvores de "hosana, bendito o que vem em nome do Senhor" é a mesma multidão que o rejeita, clamando uma condenação enfurecida: "crucifica-o"

3. A igreja da multidão só busca Jesus por causa dos milagres. Logo após a multiplicação dos pães e peixes, Jesus é procurado pela multidão. “Quando o encontram do outro lado do mar, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui? Jesus respondeu: A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos”. (João 6:26). Jesus discerne e revela as mais íntimas motivações e intenções da multidão em buscá-lo: Satisfazer seus desejos gulosos e insaciáveis por milagres. Aqui está mais uma característica da igreja da multidão: caçar milagres independe de quem der. Por isso, essa igreja acredita em qualquer meio e esquema para receber a qualquer custo o milagre. Essa igreja descarta a vontade ética de Deus para supervalorizar exclusivamente o poder de Deus. Ou seja, essa igreja ora: "seja sempre feita a minha vontade assim na terra como no céu".

4. A igreja da multidão quer a salvação sem o salvador. No calvário, “Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: ‘Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também’”.(Lucas 23:39). Este criminoso deseja ser salvo da punição e da dor da cruz. E com isso, provoca Jesus com uma suspeita cínica e maligna quando manda Jesus demonstrar seu poder saindo da cruz e libertando os criminosos. Mas esse criminoso não entendia a necessidade da morte de Jesus; por isso que fez esse pedido absurdo. Se Jesus atendesse esse pedido, haveria milagre da anestesia efêmera da dor, mas não haveria o milagre eterno da salvação para a humanidade. Aqui podemos ver que esse criminoso representa o tipo de petições que a igreja da multidão faz a Jesus. A multidão de nossas igrejas quer ver milagre, mas fecha os olhos para o significado, propósito e efeitos da cruz. Perceba que, por amor, Jesus não faz o milagre pedido por esse criminoso: sair da cruz. Porque o poder de Jesus está no amor que, “...embora sendo Deus, considerou o ser igual a Deus, era algo que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo vindo a ser semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte e morte de cruz...” (Fp 2:6-8). Já imaginou se Jesus tentasse provar seu poder saindo da cruz no calvário? Estaríamos diante de um deus poderosamente em extrema fraqueza de caráter. Ainda bem que ele não respondeu a oração daquele criminoso. Porém, o segundo malfeitor deseja o salvador e sua salvação quando pede: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino. Jesus lhe respondeu: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso”. (Lucas23:43). Para esse criminoso Jesus na ficaria morto para sempre, mas entraria no seu Reino Eterno, uma vez que é Rei. E Jesus faz um milagre: Garantir vida eterna ao criminoso. Aqui vemos a revelação da graça de Deus em ação fazendo o milagre da salvação imerecida de um malfeitor. A igreja da multidão é uma criminosa porque blasfema contra Jesus ao querer milagres sem a cruz. Milagres sem cruz é magia, bruxaria, macumba. Milagre de Jesus sempre é pela cruz. E a cruz implica no Senhorio de Jesus. “Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”.(Fp 2:9-11).

5. A igreja da multidão recebe o milagre de Jesus e logo se esquece do Jesus dos milagres. Certa vez Jesus curou dez leprosos. Mas Jesus se admira pelo fato de que apenas um volta para agradecer quando pergunta: “...‘Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem votasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?’” (Lucas 17:17, 18). A maioria dos que recebem o milagre da cura se esquece de quem os curou. Assim também, a igreja da multidão sofre de aminésia espiritual. Quando a multidão recebe o milagre, logo se esquece de agradecer a Deus. Por isso, que a mesma multidão que entra na igreja é a mesma que sai. A igreja da multidão está sempre lotada de gente que recebe milagres pela graça de Deus, porém é uma igreja vazia de adoradores gratos e perseverantes na fé. O propósito de Jesus curar os leprosos é chamá-los a salvação e a adoração. Mas a igreja da multidão está cega para este propósito de Deus.

Você é membro da Igreja da Multidão? Você frequenta uma multidão de igrejas?

Pense nisso!

Em Cristo, o Senhor da Igreja

Jairo Filho

A Igreja dos Discípulos


Em contrapartida a IGREJA DA MULTIDÃO há a IGREJA DOS DISCÍPULOS DE JESUS. Vejamos suas características:

1. A Igreja dos discípulos conhece a verdadeira identidade de Jesus revelada pelo Pai. A segunda pergunta que Jesus faz aos seus discípulos sobre sua identidade é: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis quem eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". (Mt 16:15, 16). A resposta nos diz que Pedro entendia que Jesus era o messias libertador esperado e o próprio Deus encarnado e presente entre nós para salvar a humanidade. A revelação que Pedro recebe do Pai acerca da verdadeira identidade de Jesus demonstra que Pedro conhecia bem Jesus. “Então, Jesus lhe afirmou: ‘Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que teu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’. (Mt 16:17). Jesus aprova a resposta de Pedro; e é firmado nesta revelação que a igreja dos discípulos de Jesus é edificada. Assim, essa Igreja é a igreja dos discípulos que conhece quem é Jesus. E o sabe porque o próprio Pai o revelou. A Igreja dos Discípulos é a Igreja que o Pai deu para o Filho (Jo 6.44).

2. A igreja dos discípulos reconhece nos milagres de Jesus a revelação da santidade de Deus. Quando Jesus fez o milagre da grande pescaria, “...Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador”. (Lucas 5:8). Pedro responde ao milagre de Jesus enxergando no milagre da pescaria a revelação da santidade de Deus. Podemos aprender aqui que a Igreja dos Discípulos sabe que a única maneira de relacionar-se corretamente com Jesus é através da adoração. Nós seguimos às metas de um líder, obedecemos às ordens de um chefe, escutamos as pregações de um profeta, aprendemos filosofias de vida de um mestre, mas a Deus a gente adora. E nesta ocasião, Pedro Adorou a Jesus, porque viu a santidade de Deus em Jesus. E a santidade de Jesus o levou a enxergar a miséria de sua própria natureza pecaminosa. Ariovaldo Ramos nos ensina que: “Adorar a Deus é pedir perdão. Tudo o que dizemos a Deus é insuficiente para honrá-lo. Mas quando lhe pedimos perdão, o adoramos, porque admitimos que Ele está certo, não nós. E lhe pedimos perdão, não apenas por nossos desvios morais, mas por nosso jeito de ser e de viver”. Assim, entendo que o perdão recebido nos transforma mais parecidos com Jesus, pois o Espírito Santo vai nos revelando onde estamos desonrando a Deus e nos transformando à imagem do Senhor (2 Co 3.18). E dessa forma a igreja dos discípulos adora a Deus imitando o caráter de Jesus por meio da obra do Espírito Santo.

3. A igreja dos discípulos reconhece no milagre de Jesus o chamado para fazer mais discípulos. Após Pedro adorar a Jesus pela sua santidade, “Disse Jesus a Simão: ‘Não temas; doravante serás pescador de homens’. E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram". (Lc 5:10 e 11). Ou seja, Jesus está dizendo que o milagre que acabara de realizar aponta para outro milagre que estava por vir: O chamado a pescar homens. Da mesma forma que Jesus fez o milagre da grande pescaria de peixes, faria agora o milagre da pescaria de homens do mar das trevas para a superfície da rocha do Reino da maravilhosa luz do amado filho de Deus. E como resposta a este sinal da santidade e chamado de Deus, Pedro e seus companheiros deixam tudo o que tem para seguir a Jesus. Perceba que o barco estava cheio de peixe e da garantia de lucro financeiro. Mas Pedro, Tiago e João deixam tudo o que ganharam para seguir em tempo integral a Jesus. Ou seja, a adoração nos leva à fazer missões. Assim, entendo que ser discípulo de Jesus é morrer para seu próprio egoísmo a fim de viver para servir a Deus com altruísmo. É trocar a falsa fé que tenta mover a mão de Deus para satisfazer seus desejos gulosos e insaciáveis pela fé que move a mão do discípulo para doar a si mesmo e o que tem ao próximo levando-o aos cuidados das mãos de Deus. Resumindo: Quando a igreja dos discípulos recebe o milagre da fartura financeira pela providência da graça de Deus, somos chamados a compartilhar tudo o que temos com quem não tem. Como? Fazendo mais discípulos.

4. A igreja dos discípulos reconhece no milagre o alimento de Jesus e sua palavra de vida eterna. Após a multiplicação dos pães e peixes, Jesus revela as mais íntimas motivações e intenções do coração da multidão que o seguia: Satisfazer-se de comida material. Mas Jesus adverte dizendo: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará...A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado...Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede...” (Jo 6:27, 29, 35). Jesus ensina que o verdadeiro alimento que mata a fome da alma humana era ele mesmo e não a comida material que perece. E o verdadeiro significado e propósito da obra de Deus é que creiam em Jesus: o verdadeiro milagre.“Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: “Dura é essa Palavra. Quem pode suportá-la?...Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo”.(Jo 6:60 e 66). Ou seja, a igreja da multidão muitas vezes está no meio dos discípulos; e é revelada quando escuta a Palavra de vida eterna, pois não resistem e não suportam a Palavra da verdade, e logo apostatam da fé em Jesus. Logo em seguida a apostasia da multidão travestida de discípulos, Jesus coloca seus doze discípulos contra a parede quando perguntou: “Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde iremos? Tu tens as palavras de vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus”. (Jo 6:27 – 71). Jesus esta revelando que o que vai alimentar e saciar a fome do ser humano é ele mesmo – o pão da vida – e suas palavras de vida eterna. Assim, nem só de pão de fermento viverá o homem, mas de todo o pão da vida que é Jesus. Ou seja, a igreja dos discípulos se alimenta do milagre do pão da vida e da esperança da vida eterna em Cristo Jesus. E vive pregando esse milagre.

5. A igreja dos discípulos só vive dos milagres gerados em torno da cruz de Cristo. Jesus faz referência à cruz quando compara a si mesmo como alimento para gerar vida eterna. Ele diz: “...Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é a verdadeira comida, e o meu sangue é a verdadeira bebida...quem comer este pão viverá eternamente.” (Jo 6:52 – 58). A igreja dos discípulos vive em torno da verdade da cruz. E a cruz nos leva a morrer para os nossos pecados para ressuscitar como nova criatura em Cristo Jesus. A igreja dos discípulos prioriza se alimentar da vida de Jesus e produzir na própria vida, a vida de Jesus. E para ter a vida de Jesus, a igreja dos discípulos tem que passar pela cruz. E é na cruz que está garantida a continua generosidade de Deus à sua igreja. Pois, Deus "que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?” (Rm 8:32). Se Deus fez o maior milagre de entregar seu próprio filho em nosso favor para nossa salvação eterna, quanto mais, pela cruz, nos dará graciosamente – incondicionalmente do mérito ou demérito de quem quer que seja – todos os milagres pela sua soberana vontade. Assim, a igreja dos discípulos vive dos milagres aqui e agora pelos efeitos da graça da cruz de Cristo. Pois a graça da cruz de Cristo nos garante os milagres em nossa vida.

Enfim, podemos concluir que os milagres de Jesus são a revelação do caráter e propósito de Deus em salvar o mundo e reproduzir verdadeiros discípulos que vivem imitando a Jesus durante toda a vida. Esta é a verdadeira igreja dos milagres.

Dessa forma, que igreja você está? A igreja da multidão ou a Igreja dos discípulos?

Pense e responda a si mesmo.

Em Cristo, em quem a igreja dos discípulos está edificada para realizar e viver milagres nele.

Jairo Filho

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Isto é ou não é pecado?

A rejeição da autoridade legisladora, a relativização da verdade e a renúncia à confissão de pecados exigem uma revisão profundamente bíblica do conceito de pecado. Se observarmos o comportamento social, cultural e religioso vamos perceber que a definição de pecado sofre metamorfoses com o passar dos tempos. 

Vejamos alguns exemplos do que é e do que não é pecado com o passar dos tempos:

As práticas de roubar, mentir, promiscuidade sexual, matar e de trazer o mundo para dentro da igreja são relativizadas pela cultura pós-moderna quando não são consideradas pecados em determinadas ocasiões.

1. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE ROUBAR É PECADO, mas que roubar de nosso governo corrupto não é tão pecado assim. Quando eu era criança cheguei um dia no templo da igreja e fiquei assustado por perceber que a igreja tinha sido roubada. Olhei e li rabiscado na parede a escrita: “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Entendi que a garantia do perdão do roubo pelos ladrões era baseada no fato de que eles roubaram ladrões. Eles eram iguais a todos os que sonegam impostos ao governo, uma vez que já estão sendo roubados pelo governo. No fim das contas, somos tipicos Robin Hood com jeitinho brasileiro de nos auto-justificarmos por roubar com pirataria um governo corrupto. Logo, aqueles que roubaram a igreja são exatamente iguais aos moralmente corretos cidadãos que sonegam o governo. Assim sendo, roubar nem sempre é pecado. Será?

2. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE MENTIR É PECADO, mas mentir para preservar o emprego não é pecado. Um dia certo funcionário foi intimado a levantar uma calúnia contra seu colega de trabalho para que fosse preservado o seu emprego e o seu colega fosse demitido por justa causa. Se não houvesse mentira, o funcionário é quem seria demitido. Diante desse dilema, mentir é pecado para preservar o sustento da própria família em detrimento de uma mentira forjada? E o que dizer daquele taxista que é flagrado numa infração de trânsito e terá sua carteira apreendida caso não minta para o guarda rodoviário? Se ele não mentir perderá o emprego e o sustento de sua família. Nesse caso, mentir é pecado? 

3. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE TODA DEPRAVAÇÃO SEXUAL É PECADO. O adultério é pecado, mas muita gente concorda que se apaixonar por outra pessoa quando o casamento está em crise é uma boa saída para apimentar e valorizar a relação conjugal ou um meio para um divórcio justo. Há um exemplo de adultério no cinema. O filme "Titanic" mescla uma história real de naufrágio com uma aventura romântica. O roteiro mistura uma tragédia com um adultério. E quase ninguém percebe isso. A personagem Rose tem um noivado em crise com um homem rico e chato. Nesse cenário, aparece o lindo e aventureiro Jack conquistando e transando com a Rose. Resumindo: O autor desse filme conduz todo espectador a torcer pela aventura romântica de adultério entre Jack e Rose. Pior ainda: Muitos queriam estar no navio exatamente no lugar dos dois. Nesse caso, aprendemos que adultério nem sempre é pecado. Ou é? Vejamos outros exemplos:
  • Sabemos que o adultério sempre foi visto como pecado grave tanto pela religião cristã como pela ética e a moral da sociedade laica. Mas com o passar dos tempos, alguns casais encontraram a justificativa, a permissão e a solução para o ciúme e o adultério: swing, a troca de casais. Há um acordo entre os cônjuges para não haver ciúmes: É a promoção do sexo pelo sexo. E com isso, o swing deixa de ser mais uma aberração sexual para ser apenas mais uma opção sexual de relacionamentos. E, em nossa atual geração, quem discordar disso é considerado preconceituoso e retrógado. 
  • Nas décadas das famílias tradicionais no Brasil era absurdo falar em e com homossexuais; hoje, isso é considerado crime de homofobia. E isso influencia a educação sexual entre pais e filhos. Luis Fernando Veríssimo demonstra essa mentalidade quando desenhou uma tira da Família Brasil na qual o avô pergunta à neta grávida se o bebê seria homem ou mulher, ao que ela respondeu com naturalidade: “Não sei, vai escolher quando crescer”.
  • Para você ter uma idéia, temas ligados a sexualidade sempre foram um grande tabu no meio evangélico, a ponto de serem sempre considerados pecado. Mas, hoje, para surpresa de alguns poucos, existem igrejas a favor de todas as opções e orientações sexuais; e, até mesmo, há a ordenação de pastores gays ao ministério em igrejas evangélicas. Veja uma dessas igrejas clicando AQUI
  • Antes, não ser virgem era motivo de discriminação; hoje é o contrário. Surgiu recentemente uma propaganda na TV que mostrava uma avó com sua neta no restaurante. A avó censura sua neta por usar chinelos no restaurante. A neta prontamente responde que ela não usava simples chinelos, mas sandálias que combinavam com ambientes chiques; e logo em seguida, a neta censura a avó por ser atrasada e não ser tão moderninha como ela. Em seguida, aparece um ator galã no restaurante. As duas olham para ele com admiração. A avó sugere para neta arrumar um galã como aquele ator. A neta, imaginando que a avó está pensando em casamento, responde que acha chato casar com homem famoso. A avó prontamente responde: “Mas quem falou em casamento? Eu to falando de sexo”. A neta suspira surpreendida com a resposta e escuta ainda a avó dizer: “Depois eu ainda sou a atrasada?” Perceba a mensagem da propaganda: Usar as sandálias é ser tão moderno quanto alguém que faz sexo casual. O que era um tabu há alguns anos, agora vira sinônimo de modernidade. Assim, hoje quem não faz e curte um “affair” é careta atrasado e retrógado. Os valores éticos e morais da sexualidade em nossa cultura estão se invertendo cada vez mais. O que era imoral, agora é moralmente aceito com naturalidade. E o que era errado vira certo. Pense: Essa vovozinha teria essa mesma mentalidade quando ela era jovem?
  • Espero estar errado, mas do jeito que a carruagem está andando, suspeito que, com o passar do tempo, os pedófilos deixem de ser vistos como criminosos e conquistem sua vez e voz  de aprovação na mídia. Será que no futuro iremos achar normal um homem de 50 anos transar apaixonado por uma menina de 8 anos? Já imaginou daqui a alguns anos uma parada do orgulho pedófilo lotando e atraindo multidões nas avenidas famosas do mundo?
3. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE MATAR É PECADO, mas matar o pedófilo que estuprou e matou a menininha de sete anos não é pecado. Não é a toa que o tema da pena de morte e a legalização do aborto estão sempre na pauta de discussão da sociedade e nunca há unanimidade sobre a questão. Assim, os fins justificam o pecado e relativizam a verdade. Em outras palavras, para algo ser pecado é preciso que seja um crime hediondo que extrapole a consciência mais depravada. E mesmo assim, tem gente que discorda disso.
4. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE TRAZER O MUNDO PARA DENTRO DA IGREJA É PECADO. Semelhantemente, os valores religiosos também seguem esse mesmo rumo. Vejamos alguns exemplos: 
  • Com relação à música na liturgia do culto público, vale lembrar que muita gente não sabe que o órgão, instrumento musical sacralizado no início da igreja protestante evangélica no Brasil, era usado em cabarés nos USA. As igrejas do passado abominavam instrumentos musicais de corda e percussão. A guitarra, o baixo, a bateria eram rejeitados pela igreja por serem considerados instrumentos mundanos e endemoniados. Até bem poucos anos atrás, os instrumentos de percussão - como, por exemplo, atabaque, pandeiro e triângulo - eram rejeitados e proibidos no culto cristão por serem os mesmos instrumentos usados nos cultos das religiões afro-brasileiras. Mas hoje, você encontra uma igreja evangélica que proíba estes instrumentos musicais; agora, sacralizados? 

    • Acompanhar músicas agitadas batendo palmas era trazer o mundo para dentro da igreja. Pois as palmas eram sinônimo das festas carnais e brecha para a dança. E por falar nisso, a dança sempre foi um grande pecado capital para a cultura evangélica. Era considerada mundana demais para ser aceita e praticada. O corpo humano sempre foi visto pela ótica do dualismo gnóstico que considera o corpo o cárcere da alma; onde a alma é boa e o corpo é matéria má. Assim, durante anos e ainda hoje o culto verdadeiro sempre é considerado aquele em que saímos do corpo para produzir uma abundância de êxtase emocional ou abundância de meditação intelectual. Não é a toa que a verdadeira e espiritual oração deve ser feita sempre de olhos fechados. Para muitos, peca quem ora de olhos abertos. Porém, atualmente, cada vez mais, uma igreja que não dança com suas coreografias é uma igreja morta e dança no mercado competitivo gospel de ser a melhor igreja. 

    • Por outro lado, para você ter uma idéia, há, em nossos dias, forró evangélico que reúne casais para dançarem nos cultos dentro ou fora dos templos. O rock 'n' roll odiado por tantos anos pelos cristãos e definido como música mundana e diabólica, atualmente é a mais sacralizada trilha sonora de adoração de nossa geração. Para você ter uma idéia, em 1982 houve uma campanha de oração no Brasil contra a primeira edição do Rock in Rio. Na sua terceira versão em 2001, um grupo gospel, Oficina G3, participou da abertura desse evento sem nenhuma polêmica entre os evangélicos. 

    • No passado, a moça que usava calça, maiô ou biquíni era considerada vulgar onde quer que fosse. E a mulher evangélica que usasse maquiagem ou andasse na moda era vista como pecadora, mas hoje há desfile de modas nas igrejas com modelos profissionais cristãs. 

    • Na década de trinta um homem de respeito usava chapéu, boina, boné. Hoje, o chapéu ou boné na igreja é considerado desrespeito a Deus. O homem de terno e gravata sempre foi visto como homem santo e mais espiritual do que outros. Um homem sem terno e gravata era proibido de pregar de púlpito em algumas igrejas. Hoje o terno e a gravata estão virando sinônimo daqueles que participam das máfias do colarinho branco em Brasília. E até mesmo ladrão de banco se veste de terno de gravata. E em muitas igrejas do litoral, há a moda de pregar de bermudão e camiseta, e ir ao culto de shorts e roupas descoladas de verão.   
    Agora imagine comigo um evangélico da década de 1930 no Brasil entrando na máquina do tempo e chegando em 2010. O que ele pensaria ao ver todos os usos e costumes culturais condenados pela igreja se tornarem próprio ao ambiente de culto? Agora imagine eu e você entrando na máquina do tempo e chegando em 2050. O que será ou não será pecado nessa época? 

    A grande dúvida é que o que é pecado hoje, amanhã não é mais. Logo, como vou saber se isso é pecado ou não? Alguém pode dizer: "Hoje isso é pecado, mas espera mais um tempo que daqui a pouco não será mais pecado; e assim, você pode fazer o que tanto deseja". Afinal, o que é pecado? 

    Não quero analisar todos os casos culturais e religiosos citados acima, mas quero dizer que ao mesmo tempo é positivo perceber que muitos hábitos e conceitos culturais vêm sendo reciclados com o passar do tempo, como também é negativo perceber que muitos valores morais, éticos e bíblicos absolutos estão sendo negociados e relativizados.  

    A conclusão que chegamos é que falar sobre pecado não se resume em cumprir ou não cumprir regras e leis religiosas . Também pecado não são usos e costumes culturais que são mutantes com o passar dos tempos. Devemos entender o significado bíblico de transgredir a lei de Deus e diferenciá-lo da transgressão às leis religiosas e usos e costumes culturais. As leis religiosas são mutantes com o passar do tempo, pois são fabricações da religiosidade cristã. E a cultura é dinâmica com o tempo e seu povo. Mas a lei de Deus é boa, absoluta e imutável, pois é legislada com a autoridade e a verdade do Deus amoroso, santo e justo (I Tm 1:8) para todos os tempos e culturas. Este é o pre-requisito bíblico para definir biblicamente o conceito de pecado e traduzi-lo a nossa atual geração.

    Em Cristo, o nosso único santo e modelo de santidade



    Jairo Filho

    O que é pecado?


     
    Muita gente pergunta para mim: Isso é ou não é pecado? Aquela pessoa é mais pecadora do que a outra? Esse pecado é maior do que aquele? Por que esse bebê já é considerado pecador? Por que todos somos pecadores? Por que o bem que quero fazer eu não faço? O que é pecado?

    A definição mais comum para pecado é “infringir normas divinas”. I João 3:4 afirma isso: “Todo aquele que pratica o pecado transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei”. Com base nesse e outros textos, o teólogo Millard Erickson definiu pecado como “qualquer falta de conformidade, ativa ou passiva com a lei moral de Deus". Semelhantemente, o teólogo Wayne Grudem define pecado como “deixar de se conformar à lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude, seja em natureza”. Perceba que a ênfase dessas definições de pecado recai sobre “conformidade com a lei” e sobre a idéia de que há uma autoridade legisladora suprema.

    Diante disso, como traduzir o conceito bíblico de pecado para a atual geração pós-moderna? Para muitos, o conceito de pecado não faz o menor sentido nem diferença. Isso acontece porque temos alguns pressupostos filosóficos, culturais e religiosos impreguinados na mentalidade pós-moderna que impedem a absorção do conceito bíblico de pecado como transgressão à lei de Deus. Vejamos esses pressupostos:

    1. Rejeição à autoridade legisladora: A geração pós-moderna absorveu uma mentalidade avessa a toda e qualquer autoridade legisladora. O ditado popular sugere que toda lei foi feita para se desobedecer. Há um espírito de rebelião na natureza humana e no comportamento da sociedade que rejeita normas, leis, regras civis e, principalmente, religiosas. A cultura religiosa popular desenhou um Deus autoritário e ditador de condutas morais com alto padrão de exigência e ameaça de castigo aos trangressores. Para você ter uma idéia, no interior do Nordeste, todo evangélico é aquele que entrou para a "lei dos crentes". Isso acontece porque a religiosidade cristã produziu uma teologia moral de causa e efeito que resume a relação com Deus exclusivamente em obedecer às regras de Deus para ser premiado; ou, se desobedecer, ser castigado. Dessa forma, como falar de pecado para uma geração que rejeita ditaduras morais e religiosas e enxerga Deus como um legislador autoritário?

    2. Relativização da verdade: Uma vez rejeitando as legislações impostas, a geração pós-moderna absorveu também uma mentalidade que relativiza valores morais, éticos e religiosos. Agora há um descaso com qualquer autoridade externa ao individuo. Quando falamos que isso ou aquilo é pecado, logo somos interrogados: “Quem é você para dizer o que é certo ou errado?” Agora, a verdade é produzida pela jurisdição interior de cada individuo. E a verdade deixa de ser absoluta para ser relativizada por cada um. Em resumo, nossa geração vive o adágio popular de que cada cabeça tem sua sentença. 


    3. Renúncia à confissão de pecados: Outro desafio a tradução bíblica do conceito de pecado para atual geração pós-moderna é a apologia à justificação da própria inocência. A filosofia do direito esina que todo cidadão tem o direito de não produzir ou apresentar provas para condenar a si próprio. Por exemplo: Todo cidadão tem o direito de renunciar o teste do bafômetro quando for parado pela polícia rodoviária, porque não é obrigado a plantar provas contra si, mesmo flagrado plenamente alcoolizado. Esse direito é vivido por todos, em todas as circunstâncias, sejam morais, legais ou espirituais. Somos treinados, desde cedo, a nunca confessar nossas fraquezas emocionais, vícios morais, erros sociais, transgressões legais e pecados espirituais e religiosos. A apologia à justificação da própria inocência gera a cultura da justiça própria. Ninguém tem pecado. Não existe pecado. Todos somos inocentes. E todos se esforçam para se auto-justificar, escondendo seu caráter e preservando uma reputação irrepreensível perante a moral da maioria. Por isso, surgem os hipócritas religiosos que se escondem atrás de sua justiça própria de compensação de erros por meio de boas obras, e surgem libertinos caras de pau que mascaram seus delitos morais, civis e religiosos na própria justificação da mentalidade do "errar é humano" e "todo mundo faz o mesmo". E se todo mundo faz o mesmo, não é errado, muito menos é pecado. Assim, a palavra arrependimento jamais estará no vocabulário de nossa geração, porque ninguém é pecador.

    Eis os três pressupostos de nossa geração que provocam o desafio de traduzir o conceito bíblico de pecado.

    Diante disso, como definir o que é pecado para uma geração pós-moderna que rejeita toda autoridade legisladora, relativiza a verdade e renuncia a confissão de pecados com a apologia à justificação da própria inocência?
     
    Pense nisso!

    Em Cristo, o Senhor legislador que encarnou a verdade absoluta perdoando todos os arrependidos.

    Jairo Filho

    terça-feira, 28 de setembro de 2010

    O evangelho do “Está consumado!”



    Estamos diante duas histórias e dois salvadores: “O resgate do soldado Ryan” e seu salvador, o capitão John Miller; e, “Paixão de Cristo” e o Senhor e Salvador do mundo Jesus Cristo. Enquanto o capitão John Miller salva apenas um soldado e antes de morrer joga nas costas dele a dívida do “Faça por merecer” o sacrifício; Jesus, o Senhor e Salvador do mundo, nos liberta de todo e qualquer sacrifício para quitar a dívida impossível de ser paga por nós quando diz antes de morrer: Está consumado! (Jo 19:30).

    Mas o que este texto tem a dizer ao Sr. Alberto que não se aproxima de Deus porque se sente pecador demais para tal. O que este texto tem a dizer a Marta que está sofrendo uma profunda crise de depressão? O que este texto tem a dizer a Antonio que ultimamente está com forte desejo suicida porque não consegue ficar sem pecar por 24 horas por dia, 365 dias do ano; e, assim, não vê mais sentido para viver? O que este texto tem a dizer a João e a Maria que estão enfrentando a mais profunda crise conjugal de 20 anos de casados? O que este texto tema dizer Miriam que está em busca de um grande amor, cansada de se apaixonar por tantos e amar nenhum? O que este texto tema dizer ao adolescente Bob que se acha o cara mais feio e rejeitado da sua escola? O que este texto tema dizer a Vanessa que não tem cereza da sua salvação? O que dizer a todos os pastores que não sabem como fazer a sua igreja crescer? O que este texto tema dizer ao José que apesar de crente em Jesus luta contra o vício sexual? O que este texto tem a dizer ao alcoólatra Cléber que não se sente amado e aceito por Deus apesar de ir à igreja toda semana? O que este texto tem a dizer ao seu Chico que tem visto assombrações diabólicas dentro de sua casa? O que dizer ao Ronaldo que carrega na sua bagagem existencial mil memorias de pecados passados, culpas presentes e marcas de condenação religiosa frequente? O que este texto tema dizer a Aline que não consegue perdoar o pai que trocou a família para viver com uma amante? O que este texto tema dizer a Joana e Guilherme que acabaram de receber a notícia de que serão pais de um filho com síndrome de down? O que este texto tem a dizer a todas as religiões do mundo? O que este texto tema dizer tem a dizer a você hoje? Todos os nomes citados são fictícios; porém, as histórias são muito semelhantes com a vida real de muita gente.

    E o que "Está consumado!" tem a dizer a viúva de Roberto Marinho, a socialite Lily Marinho, 88 anos e ao padre dela?  A jornalista Renata Leão Bavaresco, diretora de redação da revista “TPM”, perguntou a Lily: “A senhora é religiosa?” Ela respondeu: “Sou católica, mas às vezes fico muito zangada com Deus. Fiquei zangada quando perdi meu filho [Horacinho]. Um dia perguntei a um padre: ‘Se Deus é tão bondoso, tão isso, tão aquilo, por que deixa acontecer [...] incêndios, essas coisas?’. Ele disse que Cristo morreu com 33 anos e não teve tempo de pagar em vida o mal da humanidade; então as pessoas têm que pagar o que Cristo não teve tempo de fazer. Bom, foi a explicação que me deram” (Leia essa reportagem aqui e comentário aqui)

    Aprendemos na Palavra de Deus a seguinte tese:

    TODA RELIGIÃO DIZ: OBEDEÇA PARA MERECER A SALVAÇÃO.
    MAS O EVANGELHO DE JESUS DIZ: SEJA SALVO PELA GRAÇA PARA OBEDECER POR AMOR.

    Enquanto a religiosidade do “Faça por merecer” é a mentalidade de toda religião, a espiritualidade em Cristo do “Está consumado” é o evangelho de Jesus. A religiosidade gera religiosos que decidem ser senhores e salvadores de si mesmo quando praticam, com hipocrisia, soberba e independência, abomináveis obras de justiça própria; e assim, negam e jogam no lixo a cruz de Cristo em sua vida. Já o evangelho de Jesus gera discípulos que reconhecem que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas; e assim, passam a obedecer por amor a Deus, gratidão pela salvação, dependência do Espírito Santo, liberdade pela cruz de Cristo, alegria no coração e serviço de evangelização a todos.

    A pior conseqüência do “Faça por merecer” é a tentativa abominável, autônoma, vã, nervosa e insegura de salvar a si mesmo por meio dos seus méritos morais de justiça segundo seu próprio padrão de santidade. Essa conseqüência é abominável porque torna a cruz de Cristo inútil e insuficiente e a reduz apenas a um martírio como outro qualquer. É uma tentativa autônoma porque é incrédula na suficiência da cruz de Cristo e não depende com fé do sacrifício que Cristo fez por nós. É uma tentativa porque não há um justo sequer (Rm 3:10-13), implicando na impossibilidade total do ser humano salvar a si mesmo. É uma tentativa nervosa porque vive na tensão de ser premiado ou castigado a qualquer momento e vive na tensão da exigente disciplina religiosa pela busca da aceitação de Deus. E é uma tentativa insegura porque o religioso nunca se garante nem tem a garantia de que tem a salvação eterna hoje, uma vez que ele nunca sabe se está com créditos ou deméritos o suficiente para salvá-lo ou não.
    Minha amiga, irmã e ovelha kauane Debrasi tatuou "TETÉLESTAI" depois que ouviu essa minha mensagem pregada : )
    “ESTÁ CONSUMADO” SIGNIFICA "Tetélestai"

    “Tetelestai” é um termo grego muito familiar na cultura de Jesus. E tem 4 significados:

    1. SERVOS: Os servos e escravos usavam esta palavra sempre que terminavam um trabalho e levavam o fato ao conhecimento de seus senhores. O servo dizia: "Tetélestai" - terminei a tarefa que me deste para fazer". Isto significa que o serviço fora feito como o senhor determinara e na hora que fora estabelecida. Da mesma forma, Jesus é o servo santo de Deus. E viveu na cruz o que ensinou. "Tetélestai"  é serviço completo. Não há mais nada a ser feito para agradar a Deus. 

    2. SACERDOTES: Sempre que os adoradores levavam ao templo sacrifícios dedicados a Deus, os sacerdotes tinham de examinar o animal para certificar-se de que era perfeito. Se o sacrifício fosse aceitável, o sacerdote dizia: "Tetélestai - não tem defeito".  Da mesma forma, Jesus é o sacrifício perfeito e imaculado de Deus. Ele é o santo cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo por meio de seu sangue. Ele é o nosso sumo sacerdote. Não há mais sacrifícios de barganhas a fazer. E todo sacrifício do “faça por merecer” será inútil, insuficiente, pois é impureza da religiosidade "evangélica" anti Cristo.

    3. ARTISTAS: Quando um artista ou escritor completava seu trabalho, eles davam um passo para trás, contemplavam a obra e diziam: "Tetélestai! – está pronto”. Isso significava que a morte de Jesus na cruz completa o quadro que Deus estava pintando, a história que vinha escrevendo havia séculos. A obra de cristo na cruz é como uma luz de legenda que ilumina o corredor escuro de uma galeria de arte e explica e complementa cada obra até chegar a obra mais plena e sublime. A cruz de Cristo é uma obra de arte perfeita realizada pelo grande artista Jesus, idealizada pelo autor Deus e explicada pelo expositor Espírito Santo. Isso implica dizer que toda obra de justiça da religiosidade não passa de "trapos de imundície" (Is 64:6); ou seja, como um imundo absorvente feminino usado antigamente.

    4. MERCADORES - "Tetélestai" era uma palavra usada por mercadores quando "a dívida está completamente paga". Se você comprasse algo a prazo, quando fizesse o último pagamento, o negociante lhe daria um recibo com a palavra "tetélestai - está quitado". O débito fora totalmente pago. Pois é impossível pagar o a dívida por termos desobedecido à lei de Deus. Mas o sacrifício de Cristo garante: A divida foi paga; ela permanece paga e estará paga para sempre (Cl. 2.14-15). Quem se relaciona com Deus por meio de méritos e deméritos blasfema com incredulidade contra a suficiência do alto preço do sangue de Jesus pago na cruz para nos libertar de uma vez por toda da dívida impossível de ser paga por nós.

    QUAL O SIGNIFICADO EXISTENCIAL DO “ESTÁ CONSUMADO”?

    1. “Está consumado” garante a salvação pela graça. Jesus morre na cruz sem esperar nada em troca. Enquanto o capitão Miller deu sua vida por um bom soldado, Jesus deu imerecidamente sua vida por todos os pecadores (Ef 2:8, 9, Rm 5:8, Ef 2:4, 5). Isso implica dizer a todas as religiões do mundo que a salvação é pela graça de Deus, exclusivamente, mediante a cruz de Cristo.

    2. “Está consumado” garante que não há mais castigo e condenação para os que estão em Cristo. A cruz de Cristo nos liberta da condenação, uma vez que Jesus sofreu e morreu imerecidamente no lugar dos pecadores. Ele é o verdadeiro sacrifício. O que nenhum animal ou sangue foi capaz de fazer, Jesus satisfez. Assim, somos justificados; declarados, em cristo, santos, irrepreensíveis e inculpáveis (Cl 1:22). Somos perdoados de uma vez para sempre (Rm 8:1). Isso implica dizer que Sr. Alberto pode se aproximar de Deus confiando na graça da cruz de Cristo que o perdoa para sempre. E a Marta pode vencer a depressão e o Bob, a rejeição e seu complexo de inferioridade; uma vez que eles são amados por Deus.

    3.  “Está consumado” garante que Jesus cumpriu toda a vontade de Deus em meu lugar. Ele satisfez todas as exigências da lei de Deus, que é impossível de ser cumprida por nós, e a cumpriu em nosso lugar.  Ele é o centro, aplicação e encarnação das Escrituras (Mt 5:17 e Jo 1:14). Isso implica dizer que o Antonio não precisa ter a neurose doentia de ficar sem pecar com medo do inferno. Cristo já sabia disso e pagou o alto preço de obediência e morte na cruz pelos pecados passados, presentes e futuros do Antonio.

    4. “Está consumado” garante que Jesus pagou toda a dívida dos meus pecados na cruz. Ele apagou a escrita de dívida que estava contra nós (Cl 2:14). Não há mais necessidade de fazer nada para merecer a salvação. Isso implica dizer que o Ronaldo pode ser liberto do passado carregado de pecados, das culpas presentes e das condenações frequentes. Ele não deve mais nada para Deus, pois tudo está pago por Jesus para sempre.Essa é a resposta que a Lily Marinho precisa para ser consolada. E tomara que o padre dela conheça a essa verdade do evangelho.

    5. “Está consumado” garante o perdão dos meus pecados. Somos declarados justos aos olhos do Pai.  A cruz de Cristo nos justifica e nos reconcilia com Deus (Cl 1:22 e Rm 5:1). Agora temos um novo relacionamento com Deus por meio de Jesus. Isso implica lembrar a Aline que ela foi perdoada por Cristo; assim sendo é seu chamado, perdoar seu pai e desenvolver um novo relacionamento familiar por meio da cruz de Cristo.

    6. “Está consumado” garante a santificação. Agora somos livres do domínio do pecado para viver na ação do Espírito santo em nossa vida que gera santificação e consagração (Rm 6:6,11 e 12 e II Co 5:15). Isso implica dizer que José pode ser liberto do alcoolísmo e Cleber do vício sexual. E podemos dizer a Míriam que o maior amor do mundo é o amor de Deus, único capaz de satisfazer seu faminto coração e motivá-la a santificar-se por amor a Deus.

    7. “Está consumado” garante a vitória de Cristo sobre o Diabo. Nenhuma obra do Diabo pode atingir os que estão em Cristo Jesus; pois a cruz é a vitória sobre o diabo (Cl 1:13 e 2:15 e Rm 8:37, 38, 39). Isso implica dizer que o Chico pode ser liberto das assombrações malignas pelo poder soberano da cruz de Cristo contra o reino das trevas.

    8. “Está consumado” garante os milagres de Deus de graça. As bênçãos de Deus na vida do cristão não são conseguidas por meio de barganhas, mas são frutos de graça. A cruz garante que o crente não vive de conquista, mas de dádiva (Rm 8:32). Isso implica dizer que o casamento de João e Maria pode ser restaurado e o filho com síndrome de Down de Joana e Guilherme pode ser curado pelo poder da graça de Deus.

    9. “Está consumado” garante a vida eterna. Jesus venceu a morte. Ele é a nossa vitória. A morte foi vencida na cruz pelo poder da ressurreição. Agora todo aquele que confia na suficiência da cruz tem a vida eterna (I co 15:55 e 57 e Jo 3:36). Isso implica a dizer que a certeza da salvação da Vanessa está garantida, não pela sua performance religiosa, mas pelos méritos de Jesus Cristo.

    10. “Está consumado” garante uma evangelização verdadeira. A cruz de Cristo é o centro de nossa pregação. Não há outro alicerce que devamos construir a nossa vida e a igreja de Jesus, a não ser a cruz. Pregue e viva o significado da cruz. Isso implica dizer que a igreja crescerá quando a mensagem pregada de púlpito pelos pastores for essencialmente "nada a saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (I Co 2:2)

    Em Cristo, em quem vivo pela fé na graça do “Está consumado”

    Jairo Filho

    segunda-feira, 27 de setembro de 2010

    A religiosidade do "Faça por merecer"



    Esta é a última frase dita, antes de morrer, pelo capitão John Miller (Tom Hanks) para o James Ryan (Matt Damon) no final do filme “O Resgate do Soldado Ryan”. Este filme retrata uma história da segunda guerra mundial: Após a invasão dos aliados à praia de Ohama na França, acontece a maior batalha da segunda guerra mundial que marca o famoso “Dia D”. O pelotão do capitão John Miller é quase extinto no “Dia D”, restando apenas alguns poucos soldados. Nesse momento um dos generais do exército estadunidense e o presidente do país, recebem a notícia de que 3 de 4 irmãos da família Ryan, filhos de uma viúva solitária, foram mortos durante a Guerra. Apenas um filho estava vivo, mas não se sabe onde ele está.

    Com isso
    , o capitão John Miller recebe a missão de resgatar o último soldado Ryan em troca do direito de seu pelotão voltar para casa. Durante a procura pelo soldado Ryan, muitos soldados do pelotão morrem. E assim, começa uma discussão entre os soldados, se vale a pena sacrificar todo o pelotão por um soldado desconhecido. Durante uma conversa entre os soldados, o capitão Miller diz mais ou menos assim: “Espero que esse Ryan seja um bom soldado e invente a cura para o câncer, para valer a pena o sacrifício do resgate”.

    Na parte final do filme, o capitão Miller, encontra e conhece o tal soldado Ryan. O Capitão percebe que ele é um bom e fiel soldado. E por isso, decide protegê-lo contra um iminente ataque dos nazistas a uma ponte guardada pelos aliados. Durante esse ataque, o capitão Miller é baleado um pouco antes do fim dessa batalha. Quase morrendo, o capitão Miller balbucia no ouvido do Ryan suas últimas palavras antes de morrer: “Faça por merecer”



    O "Faça por merecer" é levado pelo Ryan por toda a sua vida. O filme mostra o Ryan já idoso, com esposa, filhos e netos o acompanhando ao cemitério para homenagear os soldados mortos. Em frente ao túmulo do capitão Miller, o Ryan diz mais ou menos assim: “Eu tentei ser o melhor homem durante toda a minha vida. Tentei fazer por merecer o seu sacrifício de me resgatar”. Com muitas lágrimas, o Ryan, cheio de aflição, insegurança e desespero, diz repetidamente a sua esposa: “Diga que eu fui um bom homem”. Ele precisava de uma aprovação da esposa para lhes aliviar a dor da consciência de que devia sua vida ao seu salvador, o capitão Miller; e ainda, não tinha certeza se tinha conseguido pagar a salvação, fazendo por merecer o resgate recebido.

    Percebo que esse soldado Ryan carregou dentro de si, durante toda a sua vida, uma dívida impagável e uma responsabilidade nervosa e cheia de culpa de fazer por merecer o resgate recebido sendo um bom homem. Ou seja, o capitão Miller salvou o soldado Ryan para que ele pudesse pagar o resgate sendo um bom homem. Mas é possível pagar a salvação?

    Esse filme pode ser uma ótima ilustração que retrata exatamente a religiosidade cristã evangélica brasileira. Os evangélicos recebem a salvação de Deus e passam sua vida inteira tentando quitar a dívida com suas boas obras de justiça própria. Passam sua vida imaginando que Cristo disse antes de morrer:“Faça por merecer meu sacrifício por vocês. Faça por merecer a salvação. Paguem a dívida da salvalção sendo bons crentes".

    Dessa forma, é importante afirmar que toda religião ensina: obedeça para ser salvo. Ou seja, obedeça para receber a salvação. Isso é a teologia do mérito da religiosidade: Faça algo para Deus ou para o próximo para merecer a salvação e/ou as bênçãos de Deus. Assim, o religioso vive fazendo sacrifícios para comprar, conquistar, adquirir e ganhar a salvação de Cristo como retribuição e/ou prêmio merecido. 


    Acredito que os "evangélicos" tem colocado o "Faça por merecer" na boca de Jesus na sua cruz. O "outro evangelho" (Gl 1:6-9) dos "evangélicos" tem feito uma montagem anátema de distorção na declaração "Está consumado" dita por Jesus na cruz.



    Quais as consequências de trocar o "Está consumado" pelo "Faça por merecer"? Quem vive essa troca corre, pelo menos, 7 perigos e muitas conseqüências:

    1. Obedece a Deus em forma de contrato utilitarista: Cria um acordo com Deus: Só obedece a Deus para cumprir sua parte e espera que Deus cumpra a dele. Assim, faz sua parte (obediência) e espera a retribuição (a salvação/bênção). E quando Deus não cumpre sua parte no contrato, ameaça Deus de abandoná-lo, ou realmente o abandona por que Deus não tem mais utilidade. Ou seja, obedece a Deus enquanto há vantagem.

    2. Obedece a Deus com expectativa de premiação e retribuição: Obedece sempre esperando elogio, aplauso, promoção, benção, milagres, recompensa, retribuição. Tem um relacionamento de barganha, negócio, troca, de toma lá, dá cá, como um bumerangue. Ou seja, a obediência compra a recompensa e passa ser uma ferramenta e moeda de troca, compra, manipulação e bajulação. Sendo assim, você é capaz de obedecer a Deus quando ninguém está olhando? Você seria capaz de obedecer a Deus mesmo sabendo que não irá ganhar nada?

    3. Obedece a Deus de forma mecânica: Quem obedece esperando receber prêmio de Deus, com o passar do tempo, obedece sem amor, alegria, liberdade e espontaneidade. A obediência é feita sem nenhum afeto e amor para com Deus; mas sim, com a intenção e motivação de ganhar vantagens na relação de troca com Deus. Assim, o desejo pela pessoa e amor de Deus é trocado pela satisfação dos desejos gulosos pelo que o poder de Deus pode dar na troca. O resultado disso é uma fé fria, cultos mortos, vãs repetições litúrgicas, ministérios feitos para aliviar o peso da consciência religiosa, devocionais cheios de rotina, orações decoradas, leituras bíblicas mecânicas etc.

    4. Obedece a Deus por medo de seu castigo: Imagino que se não tivesse inferno ou castigo, muitas pessoas não obedeceriam a Deus. Isso nos leva a pensar que a maior motivação para obedecer a Deus é o medo de Deus e seu castigo. Por isso, quando alguém comete algum pecado (real ou imaginário) imagina que Deus irá castigá-lo e mandá-lo para o fogo do inferno, porque Deus não o ama mais por causa do pecado cometido. Assim, com tanto medo do castigo de Deus, parece que a única saída para uma vida sem dor é a obediência por medo.

    5. Obedece a Deus por complexo de culpa: Aquele que peca por algum motivo fica se sentindo culpado, ou quando a obediência não gera benção, pensa que fez algo de errado. Assim, carrega dentro de si, durante toda a sua vida, uma dívida impagável e uma obrigação de penitência para se livrar do castigo e pedir perdão. Por isso que existe tanto religioso cheio de complexo de culpa imaginária e fabricada pelos dogmas da religiosidade, vivendo com medo, nervoso, perturbado, condenado pelas grades do passado, apedrejado pela lei, acorrentado pelo perfeccionismo espiritual e cheio de feridas na alma.

    6. Obedece a Deus motivado por orgulho e exigência de direitos: Se aquele que peca fica com medo de Deus e cheio de culpa, então aquele que obedece fica cheio de orgulho por ter feito sua parte no contrato e cheio de direitos diante de Deus, chegando até mesmo a dar ordens reivindicando que Deus faça sua parte no contrato e determinando o agir de Deus.

    7. Obedece a Deus para ser senhor e salvador de si mesmo: Assim, o coração cheio de obediência pelas obras da justiça própria anula o sacrifício da cruz. Isso implica dizer que o sacrifício humano de obedecer a Deus para merecer a salvação, torna inútil e inválido o sacrifício da cruz de Cristo. E assim, a salvação pelas obras faz sermos senhor e salvador de nossa própria vida. Ou seja, aquele que obedece para ser salvo nem precisa da obra da cruz para salvação. Ele é salvador e senhor de si próprio, uma vez que o sacrifício da obediência e da penitência foram feitos por ele mesmo para conquistar sua própria salvação. Dessa forma, nem precisa de ter fé em Cristo; é só exercer auto-ajuda para salvação, porque tem-se fé em si mesmo. E assim, surge a ego-latria, o culto a si mesmo.


    Lembre-se: "Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá alçém do que vos temos pregado, seja anátema". (Gl 1:9).

    Quem decide está fora do "Está consumado" é um religioso anátema diante de Deus; ou seja, morre na liturgia fúnebre da religiosidade em vez de viver a vida abundante no culto de vida e na vida de culto do evangelho da graça.

    Pense nisso! 

    Em Cristo, que nos salvou da inútil religiosidade das obras de justiça própria do "Faça por merecer" 

    Jairo Filho

    O contexto do milagre

    Estamos diante de um drama: Jesus tinha passado o dia inteiro fazendo seu ministério acontecer no meio do povo. O “dia começava a declinar” (Lc 9:12) e Jesus decide se retirar “para um lugar deserto, à parte” (Mt 14:13), indo a “sós no barco para um lugar solitário” (Mc 6:32), atravessando “o mar da Galiléia, que é o Tiberíades” (Jo 6:1). E “retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida” (Lc 9:10b), porque tanto Jesus como seus discípulos “não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham” (Mc 6:31). “Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos” (Jo 6:3).

    Quando a multidão percebeu que Jesus não estava mais a vista deles, “seguindo-o por terra” (Mt 14:13, Lc 9:11b), “correram para lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram antes deles” (Mc 6:33b), “porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos” (Jo 6:2b). Aqui já vale registrar a motivação do povo para seguir Jesus: a cura dos enfermos. Ou seja, a cura das enfermidades era a motivação e a intenção da multidão seguir Jesus. Se Jesus não curasse, será que a multidão seguiria Jesus?

    É nesse contexto da necessidade de retiro espiritual de Jesus e a multidão interrompendo seu descanso, silêncio e solitude que o milagre da provisão pede para acontecer. Este é o contexto: Jesus está cansado e a multidão está interessada nele por causa das curas realizadas. Como Jesus reagiu a esse cenário? Como Jesus aproveitou essa oportunidade? 

    Antes de tudo, temos que prestar atenção no seguinte fato: Em todo o ministério de Jesus, os discípulos estavam engajados na sua agenda ministerial; caminhando nos passos evangelisticamente intinerantes de Jesus; convivendo com os encontros e desencontros de Jesus com as pessoas; testemunhando ocularmente os sentimentos e temperamentos de Jesus; participando dos milagres de serviço que Jesus realizava para os necessitados; acompanhando as ações e reações amorosas de justiça, vida e paz promovidas por Jesus; experimentando a espiritualidade de Jesus no seu relacionamento com Deus, consigo mesmo e com seus discípulos, sua família, multidão, religiosos, enfermos e pecadores marginalizados; e aprendendo a ser semelhantes a Jesus no caminho da vida.

    Nessa convivência íntima de Jesus com seus discípulos podemos lembrar da lição de humildade e serviço (Jo 13). Algumas horas antes de ir ao Getsêmani, experimentar o prelúdio das agonias da crucificação, Jesus lava os pés dos seus discípulos, como sendo uma encenação teatral pedagógica para ensinar acerca do serviço humilde ao próximo. Após o fim da lição encenada, Jesus conclui deixando a seguinte missão: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. (Jo 13.15). Esta encenação do lava pés é uma sombra do que haveria de vir logo após – a crucificação. Aqui está o modelo de serviço: Jesus. Isso implica dizer que todo o discípulo de Jesus deve imitá-lo em seu serviço ao próximo. Esta é a vontade e o plano de Deus revelada em Jesus para a vida de todos os seus discípulos.

    Diante dessa declaração temos que fazer três destaques: (1) Jesus serviu para ser nosso exemplo. Esta é a sua misão de vida: Servir e não ser servido (Mt 10:45 e Mc 20:28). (2) O modelo do serviço é Jesus. Isso implica dizer que o método, o propósito, as motivações, as intenções, os valores, os conceitos, os critérios e a escolha do público-alvo envolvidos no serviço de Jesus devem ser imitados. (3) Somos chamados para servir à moda de Jesus. A partir do que foi dito, surge uma conclusão que implica em missão. Se Jesus é o nosso exemplo de serviço, somos chamados para sermos servos porque Jesus foi servo; e servirmos do jeito de Jesus. Jesus conclui a mensagem do lava-pés com uma promessa de felicidade para aqueles que vivem para servir dizendo: “Ora, se sabeis estas coisas, bem aventurados sois se as praticardes.” (Jo 13:17). Assim, vivemos para servir e servimos para gerar vida. Como sempre é dito por muitos, quem não vive para servir, não serve para viver. Pois, segundo Jesus, aquele que serve se torna mais parecido com Jesus. E quem se torna mais parecido com Jesus recebe a regeneração continua por toda vida. Ou seja, nossa humanidade é restaurada quando servirmos à moda de Jesus. Nos tornamos mais humanos à medida que servirmos. Por isso servirmos para tornar tornar o mundo mais humano. Isto é felicidade: servir para ser semelhante a Jesus. Servir para regenerar a humanidade idealizada por Deus em nós e no mundo.

    Esses princípios entendidos e aplicados no contexto do milagre da multiplicação de pães e peixes nos ajuda a olhar para esse milagre interpretando-o como serviço de Jesus que deve ser imitado. Ou seja, o milagre de Jesus revela o caráter de Deus em sua relação conosco. E também revela o jeito que Jesus fez o milagre de modo que seja copiado pelos seus discípulos. Jesus é o milagre do povo para que todo discípulo, semelhante a Jesus, seja o milagre do povo para o povo.

    Em Cristo, o milagre da provisão a ser imitado para sermos a provisão do milagre de acabar com a fome da alma do mundo

    Jairo Filho
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