quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O trabalho e a nossa adoração a Deus


O catolicismo medieval entendia que o serviço a Deus se resumia exclusivamente a uma vida dedicada ao ministério monástico e as ordens sagradas da igreja. O trabalho era visto como atividade física, não digna, algo inferior, secular, profano, atividade dos servos e do povo. Logo, o clero e a nobreza dedicavam-se a outras atividades mais “nobres” e intelectuais que não houvesse nenhum tipo de esforço físico. Por isso, não havia interesse algum no trabalho por parte da igreja e da nobreza. Mas, ao entender que o trabalho foi uma dádiva de Deus e revela nossa identidade, os reformadores protestantes elaboraram a teologia bíblica do sacerdócio universal dos crentes; ou seja, o conceito bíblico de serviço cristão engajado no mundo através do trabalho. Servir a Deus era estar no mundo, vivendo engajado em todas as realidades do cotidiano para a transformação social e para glória de Deus. A igreja passa a ser agência de transformação histórico-social e cada crente passa a ser vocacionado para servir a Deus com sua ocupação, ofício e profissão. Ou seja, um sapateiro, um ferreiro, um lavrador, um mecânico servem a Deus da mesma forma que um sacerdote e um bispo ordenado; porque agora todo crente tem acesso a Deus por meio de Cristo, através da leitura da Bíblia e das suas próprias orações. E assim, todo crente, independente de sua profissão, pode servir a Deus engajado no mundo. O trabalho passa a ser visto como uma atividade digna do homem, forma de glorificação a Deus e sinal de salvação.

Quando lembramos da doutrina do sacerdócio universal dos crentes, percebemos o quanto essa doutrina tem sido esquecida pela igreja. É fácil perceber o dilema de crentes que desejam servir a Deus na igreja local, mas dizem que são impedidos pela necessidade do ganha pão através do trabalho secular. Muitos pedem a Deus para sair do emprego afim de se dedicarem mais tempo as atividades da igreja-templo. Esse dilema é resultado da herança do catolicismo medieval que ainda carregamos. Hoje, nossa idéia de serviço cristão se resume às atividades na igreja-templo-denominação durante as liturgias dos cultos dominicais. Até mesmo nossa adoração e serviço a Deus tem sido resumido a cultos em ajuntamentos. Não conseguimos enxergar que nossa adoração e serviço a Deus podem ser realizados nas atividades do nosso cotidiano ambiente de trabalho; e muito menos conseguimos enxergar nosso ambiente de trabalho como campo missionário.

O trabalho deve ser encarado como uma atitude de adoração a Deus, sendo um culto cotidiano no ambiente de trabalho, enquanto realizamos nossas atividades profissionais. Nosso trabalho deve ser a oferta que brota de nosso coração de tudo o que somos e o que fazemos para Deus e para o próximo. E na medida que trabalhamos, nós progredimos em nossa jornada do crescimento pessoal quando revelamos a expressão da imagem de Deus em nós. Pois, quanto mais criativos, laboriosos e úteis, mais cresceremos na experiência do caráter de Cristo. Assim, trabalhar se torna um culto espiritual a Deus tanto quanto um culto de adoração no templo.

Em Cristo, o marceneiro adorador

Jairo Filho

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