sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Como reagir às dores da vida? Parte 2


Quero, baseado no primeiro momento da doloria experiência do sofrimento de Jó, convidar você a se preparar para quando chegarem as inevitáveis dores da vida. Pois nós sabemos que as dores da vida podem surgir de repente a qualquer um sem distinção de caráter (parace irônico, mas imediatamente após eu trazer essa mensagem, soube que tinham acabado de assaltar e roubar 15 mil reais da casa de um diácono/tesoureiro de nossa igreja). A história de Jó mostra esse fato quando apresenta uma sucessão imediata de roubo, morte e catástrofes atigindo um homem que Deus testifica que “...ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal.” (Jó 1:8b). Fico imaginando Jó sossegado acordando para mais um dia feliz com sua família quando é abordado de repente por noticias que relatam a perda de suas posses, funcionários, bens e filhos. E no outro momento, seu luto é adicionado a um câncer de pele que tritura Jó por dentro e por fora. Enfim: Jó perdeu bens, família e saúde. Como alguém pode reagir a dores tão terríveis assim?

Ouso afirmar, baseado nos 2 primeiros capítulos do livro de Jó, que A ADORAÇÃO A DEUS É A MELHOR REAÇÃO PARA VENCER O SOFRIMENTO DOS JUSTOS. Uma vez que todas as tentativas de explicar as origens e causas do sofrimento não passam de esforço intelectual e, que dessa forma, o sofrimento se torna a criptonita dos filósofos e teólogos, super-crentes e ateus, vamos tentar aprender a reagir ao sofrimento baseado nas primeiras reações de Jó ao seu sofrimento. Como? Adorando a Deus.

Assim, quero compartilhar com você 3 implicações e conseqüências que a adoração promove diante do sofrimento dos justos.

1. Adoração vence a barganha com Deus com o amor livre e incondicional

Não podemos esquecer que Jó não leu o livro de Jó enquanto estava sofrendo. Jó é a própria história. Ele sente literalmente na pele as mais terríveis dores da vida que um homem pode experimentar. Jó não sabe absolutamente nada do que aconteceu nos bastidores das regiões celestiais entre Deus e Satanás. E por isso, suas reações não são ancoradas pela presença concreta, visível e clara de Deus. Jó não estava ouvindo Deus dizer: “Meu filho Jó, você está sofrendo porque eu fui insultado por Satanás a fazê-lo sofrer. Ele disse que você é incapaz de me amar e de me obedecer incondicionalmente, e me agrediu quando disse que eu subornava você com proteção, riqueza, status social para receber teu amor. Assim, você está sofrendo para vencer essa maligna suspeita cínica contra o meu caráter. Este sofrimento é um teste para você e para mim. Eu estarei com você o tempo todo e não deixarei você sofrer muito. E eu prometo que no final do teste eu restituirei em dobro tudo o que foi tirado de você. Agüenta firme que a recompensa final vale a pena todo o sofrimento”. Não. Deus não disse nada disso e nem Jó suspeitava de nada e nunca soube dessa aposta cósmica entre Deus e Satanás. Resumindo, Jó não sabe do passado nem do futuro, só experimenta o presente com toda intensidade e suas crueldades.

O que podemos perceber é que muitas vezes o sofrimento dos justos não tem uma razão exata e explicada. Quando nos colocamos no lugar de Jó, podemos nos identificar com ele pelo fato de que nós sofremos no escuro. Nós não temos uma visão clara das razões por trás de nosso sofrimento. E como reagir nessa situação? Acredito que a mais sadia e esperada reação seja a adoração.

Entendo que o sofrimento dos justos é um convite a adoração. Mas parece que é ao contrário. Justamente quando perdemos tudo e sentimos as piores dores da vida somos induzidos a murmurar e blasfemar contra Deus. E é justamente contra a blasfêmia que Jó tanto lutava e evitava que seus filhos pecassem. E parece que o zelo com a devoção de seus filhos tem um toque irônico na trama do livro: O pecado que Jó temia que seus filhos cometessem, amaldiçoando a Deus no seu coração, é exatamente aquele que as perdas e as dores da vida induziam agora a Jó cometer. Eis a questão: Blasfêmia versus Adoração. De que lado Jó vai ficar? Como Jó vai reagir?

Para nossa surpresa, Jó, após receber as más notícias das sucessivas catástrofes, perdas e luto, “não pecou e não culpou a Deus de coisa alguma”. (Jó 1:22). Mesmo se vendo só, doente, gemendo de dores, e sem nada que possa motivá-lo a servir a Deus com devoção e fidelidade, Jó, em momento algum, pecou, nem atribuiu falta alguma a Deus. Ele continua mostrando seu temor a Deus, reconhecendo que a sua vida revela a grandeza de Deus e a limitação humana em qualquer circunstância. Humildemente ele demonstra que seu temor a Deus é maior do que os bens que ele possui.

A reação de Jó nos ensina que o sofrimento dos justos é um convite à adoração. Em vez de pecar contra Deus por meio da blasfêmia e da murmuração, Jó adora atribuindo a Deus todo o controle dos fatos, tragédias e perdas recentes. Tudo tem origem em Deus. E todos os bens da vida são passageiros, finitos, limitados, supérfulos diante do maior bem da vida: O relacionamento com Deus. E assim, Jó nos ensina a reagir às perdas da vida com adoração, mesmo que seja com lágrimas, lamento e dor.

2. Adoração vence a suspeitas cínicas do Diabo com integridade a toda prova de sofrimento

Jó não leu o livro de Jó. Mas nós estamos lendo. E lemos que houve uma assembléia celestial onde aconteceu um bate-papo entre Deus e Satanás que fabricou toda a trama cósmica em relação a história do sofrimento de Jó. E porque esse detalhe foi revelado somente a nós e não a Jó? Acredito que é para nós sabermos que, muitas e/ou algumas vezes, o sofrimento revela as mais íntimas motivações e intenções de nosso coração em construir e preservar nossa integridade, fé, temor e obediência a Deus. E Satanás incita, provoca e lança uma armadilha venenosa de uma suspeita cínica contra o caráter de Deus e contra a liberdade do homem de amar a Deus incondicionalmente.

A acusação feita por Satanás de que Jó ama a Deus só porque “o tens protegido de todos os lados” é, na verdade, um ataque contra o caráter divino. Implica dizer que Satanás afirmava em sua suspeita de que Deus não é digno de ser amado em si mesmo, que as pessoas o seguem somente porque lucram com isso ou estão sendo subordinadas por suborno corrupto para agir assim. A acusação de Satanás atingiu o caráter de Deus e, Deus escolheu Jó para responder a Satanás que o homem é livre para amar a Deus sem ser por medo, culpa ou busca de recompensa.

Satanás suspeita das secretas expectativas e interesses do coração de Jó em ser tão temente e íntegro a Deus. Ao mesmo tempo Satanás considerava Deus indigno de ser amado em si mesmo, porque subornava as pessoas dando algum prêmio em troca de seu amor. Philip Yancey disse que: “Na concepção de satanás, Deus lembra um político que só ganha a eleição porque manipula os resultados, ou um mafioso que tem uma mulher interesseira e não uma esposa dedicada. As pessoas amam a Deus, disse certa vez um sacerdote, “assim como o camponês ama sua vaca, pela manteiga e pelo queijo que fornece”. “Satanás crê que nada pode ser genuinamente bom nem Jó na sua piedade desinteressada, nem Deus na Sua generosidade igualmente sem interesse”.

O ponto decisivo da dúvida levantada por Satanás nos faz refletir e (re)ver nosso relacionamento com Deus. Pode o homem adorar e servir a Deus por nada? Desinteressadamente? Sem nenhuma recompensa? Simplesmente porque Deus é Deus? É possível haver entre Deus e o homem um encontro onde somente o amor e o afeto são as únicas motivações? Satanás pensa que não. E você como responderá essas perguntas? A sua resposta pode vencer ou não Satanás.

Para Satanás, o homem se aproxima de Deus por causa das vantagens que esta relação lhe proporciona e, uma vez tiradas as vantagens, não lhe sobraria nenhuma motivação para buscar a Deus. É exatamente nessa armadilha que a mulher de Jó cai por causa de sua fraqueza em seu desespero, depressão e luto. A mulher de Jó não vê mais vantagem ou lucro em preservar a integridade, uma vez que Deus não estava mais fazendo sua parte no negócio-contrato: Jó seria integro e Deus protetor. Mas agora, para a mulher de Jó, Deus deixou de ser o protetor. Assim sendo, a lógica de causa e efeito da teologia da mulher de Jó, conduz ela a tentar seu marido a amaldiçoar a Deus e se suicídar.

Sabendo que o utilitarismo é o carro-chefe das relações humanas, Satanás acha que não seria diferente na relação de Jó e Deus. O que aconteceria se Jó perdesse riqueza, honra e família? Será que continuaria temendo a Deus e amando-o apesar da miséria e da doença? E você preservaria sua integridade mesmo perdendo tudo o que tem e o que é? Satanás pensa que não. (Lembro agora de uma boa reação diante da provação na história de Sadraque, Mesaque a Abdenego (Dn 3:17, 18). Eles preservaram a integridade a toda prova de sofrimento.

Assim, nos deparamos diante de uma aposta que põe em jogo a relação livre, pessoal, afetiva e desinteressada entre o homem e Deus. Se não amarmos e adorarmos a Deus no meio da dor, simplesmente porque Deus é Deus, fica provado que só adoramos a Deus na expectativa da troca. E Satanás terá razão em suspeitar de Deus e de nós. Se não adoramos a Deus no meio das perdas e dores da vida, Satanás bate o martelo e condena Deus por subornar a nossa devoção a ele. E o resultado seria trágico: Um quadro pintado de um Deus fraco e carente atrás das grades que compra o amor de seus fiéis. E agora? A suspeita cínica de Satanás será vencida quando reagirmos às dores da vida com adoração livre e incondicional.

3. Adoração vence a dor com o lamento do coração despido

O Capítulo 3 do livro de Jó nos mostra que a adoração também pode ser expressa no meio da depressão e que a a fé em Deus também abre espaço para a lamentação. A depressão de Jó, iniciada no capítulo 3, nos leva para um cenário sepucral, frio, escuro, agonizante e doloroso. Jó, como lixo humano, se recolhe só no meio das cinzas. Uma terrível crise existencial assalta a paz de seu coração. E seus gritos de desespero dão o tom de sua crise existencial. Vemos o melhor homem do mundo atolado num abismo escuro de desespero e angústia.

Seus gritos de dor contam a Deus exatamente como se sente e o que pensa. Jó não esconde absolutamente nada diante de Deus. Seu coração está despido de toda riqueza, amor familiar e máscaras da religião. Jó está e se sente extremamente solitário, rejeitado e abandonado. Ele é atacado por uma crise de fé sem medidas. As falas de Jó contêm expressões profundas de dor, desespero e indignação. Quase contendo sarcasmo, ele deixa transparecer protestos irados contra Deus, chegando mesmo a beira da blasfêmia e da murmuração. Mas, mesmo assim, “em tudo isso Jó não pecou” (Jó 2:10). Ele questiona a justiça, a bondade e o amor de Deus, mas se nega a virar as costas para Deus. Sua busca agora é por Deus, não a restituição de sua riqueza ou sua saúde; mas sim, seu relacionamento com Deus.

Agora imagine comigo aquele homem temente a Deus, agora, olhando para a sua existência, desejando nunca ter nascido (Jó 3;3-10), ansiando pela morte (Jó 3;11-19) e lastimando pela vida que tem (Jó 3:20-23). Imagine essa cena, mas sem esquecer que Jó, assim como nós, não é um homem feito exclusivamente por razão sem sentimento algum. A Bíblia nada afirma sobre tal constituição humana, nem muito menos freia os lamentos e gemidos de dor de nossas emoções feridas.

A reação de adoração de Jó a Deus no meio do vale de lágrimas da depressão vai contra o ensino de muitos religiosos que pregam a aceitação entorpecida da vontade inquestionável de Deus que ordena engolir os soluços de dor. Esses religiosos ensinam que Deus coloca um freio severo e rígido sobre todas as nossas dúvidas e inquietações, desaprovando nossos momentos de desespero, choro e lamento.

Mas Jó é um homem como qualquer um de nós, e no caso, enlutado, humilhado, com dores no corpo e com todo corpo em dores, porque sua pele está em chagas e seus nervos estão em chamas. Ele sofre de insônia, magreza, mau hálito, coceira lavada de pus. É rejeitado pela sua mulher, lambido pelos cachorros e desprezado por todos. Apenas um robô muito bem programado ou um homem de pedra ou de bronze pode permanecer insensível, mas um homem verdadeiro como eu e você é um vulcão turbulento de lamentação no meio da dor.

E é aqui que eu quero chegar: O livro de Jó nos ensina que somente um Deus pessoal escuta nossos gemidos de dor em meio a nossa própria miséria, mesmo que nossos gemidos estejam isentos de lógica e falando tagarelices a cerca de nossa existência. E este é o começo da cura. Logo, lamentar de dor não é pecado. Pelo contrário, a fé se constrói no meio das cinzas da incredulidade e a esperança aparece nos destroços do desespero. Assim, a lamentação é gritar de dor mostrando a ferida aberta, confessar a fragilidade de nossa fé e entregar-se a Deus por inteiro. Esse é o início da cura. Não engula o choro se não seu coração implodirá em cinismo e sarcasmo. Mas que seu coração reaja em explosão para ser reconstruído e curado.


A história de Zac Smith continuou from iPródigo on Vimeo.




Em Cristo
, que venceu a barganha, o diabo e a dor adorando a Deus.

Jairo Filho

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