quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As torres do coração

Depois de 5 anos, não tem como esquecer que o mundo todo foi abalado na manhã de 11 de setembro de 2001. Os olhos do mundo viram ao vivo, naquele dia, o World Trade Center ser derrubado por dois aviões seqüestrados por terroristas. Em poucos segundos, as torres do coração dos EUA foram derrubadas num certeiro golpe suicida. Os olhos do mundo choraram ao ver milhares de pessoas mortas soterradas debaixo dos escombros das duas torres gêmeas mais famosas do mundo. Esta data ficou gravada para sempre no calendário do mundo. Porque ninguém nunca vai esquecer esse atentado terrorista que vitimou milhares de pessoas em poucos segundos. E porque ninguém vai esquecer esse dia quando a atual nação mais poderosa do mundo vestiu luto e se prostrou de joelhos com a cara na sua própria limitação, vulnerabilidade, fraqueza e finitude diante das tragédias da vida. Após essa tragédia acontecer, os cemitérios dos EUA ficaram lotados, enquanto eram regados por lágrimas e decoradas por flores murchas e tristes. E nos funerais, os cristãos tentavam consolar os parentes das vítimas e explicar essa tragédia inexplicável. Após 5 anos, ainda escutamos o eco deste lamento nos quatro cantos do império estadunidense. E ainda, ninguém conseguiu explicar essa tragédia, e nem vai ser hoje que tentaremos dar alguma explicação. O que podemos dizer é que as torres do coração dos estadunidenses foram derrubadas. E é por isso que até hoje vestimos luto e lamentamos no inesquecível dia 11 de setembro.

Se olharmos para essa tragédia pela perspectiva da morte de milhares de pessoas, pela perspectiva da violência dos terroristas, pela perspectiva da falha da segurança dos EUA e pela perspectiva da guerra política entre os cristãos estadunidenses e os mulçumanos do oriente, teremos o mesmo olhar: um olhar de lamento, de luto, de revolta e de enfrentamento. Com esse mesmo olhar todo mundo já viu e já falou o mesmo. O que eu quero chamar a atenção é para o significado que tem quando as torres do coração de uma nação é destruída. Ou melhor, quando as torres do nosso coração são destruídas.

Às vezes, essa tragédia e esse luto dos estadunidenses parecem distantes de nossa realidade. Mas se olharmos pra dentro de nosso coração, encontraremos muitas torres erguidas ou destruídas e sentiremos uma empatia que nos aproxima mais deles. Quando as torres caíram, não foi apenas dois prédios desmoronados e milhares de pessoas mortas que os americanos viram naquele dia. Foi muito mais do que isso. A nação estadunidense viu naquele dia seu poder, sua segurança, sua beleza, seu status internacional, sua riqueza, seu império e a glória do seu coração serem destruídos quando as torres caíram. Porque as torres representavam o que o coração dos estadunidenses mais amavam na vida.

Da mesma forma, durante nossa historia, construímos torres em nosso coração e nos abrigamos nelas. E ainda, vemos essas mesmas torres serem destruídas pelos mais variados atentados da vida nos deixarem desabrigados e inseguros. Estas torres do coração podem ser sonhos a serem alcançados, projetos de vida realizados, relacionamentos a serem conquistados ou já conquistados, utopias políticas, tradições religiosas, esperança de um mundo melhor, busca de um corpo saudável, status social, família, amigos, valores morais, partido político, experiências espirituais, uma profissão de sucesso, poder, riqueza, sexo, uma viagem de férias, estilo de vida, uma história de uma vida toda, o que mais amamos na vida, ou tudo aquilo que firmamos nossa vida para nos dá segurança de vida.

Mas, isso tudo não passa de uma falsa segurança de vida. Porque somos vitimas de muitos atentados quando uma frase ou um gesto maldoso e traiçoeiro machuca; quando uma acidente mata quem nós mais amamos; quando os negócios nos deixam falidos; quando um filho que nasceu doente paralisa toda a família; quando o exame que deu positivo nos derruba na cama; quando a depressão nos sepulta num quarto escuro; quando um derrame ou uma parada cardíaca chega sem avisar; quando a notícia que a filha esta grávida ou que o filho esta se drogando culpam a paternidade por fracasso; quando o cônjuge pede o divórcio e fere o coração; quando o patrão demite; quando a insonia traz a culpa das dívidas financeiras; quando o que mais se ama na vida é destruído; ou, simplesmente, quando as torres que construímos em nosso coração são destruídas pelos atentados da vida.

Mas quem derruba e destrói as torres do nosso coração? Deus? Alguém? Nos mesmos? Muitas podem ser as respostas dependendo do ponto de vista. Mas podemos ousar dar uma das muitas respostas e dizer que quem nos derruba é a nossa limitação, vulnerabilidade, fraqueza e finitude humana diante da vida. E estas, não fazem aniversário apenas no dia 11 de setembro, mas, fazem todos os dias.

Passamos a vida toda construindo torres dentro do nosso coração. E num piscar de olhos, numa rápida sucessão catastrófica de desgraças, perdemos tudo o que temos e tudo o que somos. Depois lamentamos pela destruição delas, tentamos reconstruí-las ou construímos outras no lugar. Passamos nossa existência buscando abrigo nas torres do nosso coração para encontrar sentido nesta vida soterrada sob os entulhos do sofrimento da vida e sob o terreno baldio e sagrado de nosso coração. Quando as torres de nosso coração são derrubadas e destruídas sofremos pela perda de nosso bem maior e pela destruição daquilo que é a nossa identidade e nosso sentido de vida. É inevitável não chegar a conclusão de que as torres do coração não permanecem para sempre, não preenchem nosso coração por não ser nossa identidade segura, nem nos oferecem razão de viver porque sempre são destruídas. As torres são sempre destruídas para demonstrar nosso coração vazio e carente; e demonstrar nossa fraqueza, insegurança, vulnerabilidade e finitude. Assim, não adianta mais construir nenhum tipo de torre que seja o centro do nosso coração. Ou seja, toda torre construída em nosso coração, um dia cairá.

O livro de Gênesis da Bíblia Sagrada nos conta a história de uma torre inacabada, chamada torre de Babel. Essa historia bíblica nos conta que os homens planejaram construir uma cidade com uma torre que alcançasse os céus a fim de que eles se tornassem famosos e não se espalhassem pela face da terra. Dessa maneira, eles estavam se rebelando contra o mandato cultural de Deus de crescer e multiplicar. Nessa historia, construir a torre era um ato de rebeldia contra Deus. Mas podemos dizer que antes de construírem a torre de Babel no concreto, eles construíram a torre de pecado no seu coração. A torre de Babel representava um ato de rebeldia e de independência de Deus. E como reprovação divina, Deus não permitiu que a construção da torre fosse terminada e confundiu a língua de todo mundo. E dali o Senhor os espalhou por toda a terra (Gn 11.1-9).

No Novo Testamento da Bíblia Sagrada, em vez de encontrar abrigo e segurança nesse tipo de torres do coração, Jesus nos ensina a morar na casa do Pai. A torre do coração é um lugar de prepotência, independência e de rebeldia contra Deus. Já, a casa do Pai é um lugar de salvação, um lugar de segurança e dependência e de relacionamento íntimo de amor com Deus Pai. A parábola dos dois filhos perdidos contada por Jesus no livro de Lucas 15. 11-32 registra Jesus indicando a casa do Pai como um lugar seguro de relacionamento de amor com Deus Pai para nossa vida aqui e agora com Ele. Além disso, no livro de João 14.2, Jesus promete que irá para o Pai que esta nos céus, mas voltará em breve para buscar os que são seus para morarem eternamente na casa do Pai, a fim de viverem ao lado de Jesus por toda a eternidade. Para completar, Jesus ainda disse no livro de Mateus 7.24,5 que quem ouve as palavras dele é como um homem prudente que construiu sua casa alicerçada sobre a rocha. E quando a caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa, mas ela não caiu. Isso quer dizer que a Palavra de Deus é segurança e sabedoria para não nos perdemos durante os atentados da vida. E se Deus não edificar nossas vidas, todo nosso esforço, trabalho e mérito para nos dá a nós mesmo a segurança que queremos será em vão. “Porque se o Senhor não for o construtor da casa será inútil trabalhar na construção” (Salmos 127. 1a).

Não tem como negar que nossa vida esta cheia de datas como 11 de setembro que marcam grandes perdas, tragédias e destruições em nossas vidas. Quando Jesus nos apresenta sua casa como o melhor lugar para se viver, ele não esta falando de mais um lugar físico de concreto que pode ser derrubado a qualquer momento, nem falando de templos religiosos feitos por mãos humanas. Mas em vez disso, a casa de Deus é a figura usada por Jesus para nos ensinar a desfrutar de um relacionamento com Deus, para crer nele para a salvação eterna e para obedecer suas palavras a fim de nos proteger com prudência das catástrofes da vida. Isso quer dizer que datas como 11 de setembro podem destruir as torre do nosso coração, mas nunca poderão destruir nosso amor incondicional e desinteressado por Deus.

Mesmo vivendo em cenários de insegurança, vulnerabilidade e finitude, o amor que Deus tem por nós nunca se acabará. E mesmo que dias como aquele 11 de setembro nos atinjam com tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez perigo ou espada, nada será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 8.35 e 39). Esta é a grande segurança que podemos ter: morar na casa de Deus Pai tendo o nosso coração preenchido pelo seu infinito amor.

Assim, quando as torres do seu coração for mais uma vez destruída, reconstruída e você viver lamentando pelos cantos, lembre-se de voltar sua atenção para sua condição humana de pecador afastada de Deus e voltar para casa do Pai. Lembre-se que fomos criados por Deus e para Deus. Assim, nossa vida terá sentido e nosso coração será preenchido quando Deus entrar em nosso coração. Porque é somente em Deus que encontramos segurança eterna, sentido para vida e amor para viver. Quando Deus entra em nosso coração, ele se torna nossa fortaleza, nosso refúgio e nosso socorro nos dias das tragédias, perdas e destruições da vida. Por isso podemos dizer que “No dia da adversidade ele me guardará protegido em sua habitação, no seu tabernáculo me esconderá e me porá em segurança sobre um rochedo” (Sl 27. 5). E somente “Deus e o meu aliado fiel, a minha fortaleza, a minha torre de proteção e o meu libertador, e o meu refúgio, aquele em quem me refugio" (Salmos 144.2). Porque quando moramos na casa do Pai, nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo, nosso Senhor. E quando Deus está em nosso coração, nossa vida inteira passa a ser de propriedade exclusiva de Deus (I Pe 2.9). E mesmo quando sofremos pelas perdas, sabemos que nunca perderemos Deus, porque ele é nosso bem maior e nunca vai se separar de nós. Por isso, saia da torre do seu coração e venha morar na casa do Pai. Esse é o melhor lugar pra se você viver.

Oremos: “Tu és o meu refugio e a minha fortaleza, o meu Deus em quem confio" (Salmos 91.2). Por isso, “uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa viver sempre na casa do meu rei” (Salmos 27.4)

Em Cristo, nossa fortaleza

Jairo Filho

Escrito em setembro de 2006.

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