quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O que não é oração

ORAR NÃO É UMA RELAÇÃO UTILITÁRIA NEM FUNCIONAL – ou seja, Deus só serve quando é útil; ou, Deus é conhecido e procurado exclusivamente por exercer uma função de realizador de meus desejos. Ex: Às vezes, nossas orações transformam Deus num eletrodoméstico usado para resolver nossos problemas ou para fazer mais rápido aquilo que não consigo fazer. E quando esse eletrodoméstico não funciona, descartamos e jogamos no lixo. Assim, conhecemos Deus apenas pelo que ele faz. E quando ele não funciona como nós desejamos, descartamos Deus de nossas vidas.

ORAR NÃO É UM INSTRUMENTO usado para transformar a realidade da minha vida, a fim de extrair o máximo do poder de Deus, nem é um meio ou recurso para mover a mão de Deus ou colocá-lo em movimento, como se Deus fosse um preguiçoso irresponsável, indolente e emburrado, sentado sobre um trono de má-vontade. Jesus disse: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. (Jo 5:17).

ORAR NÃO É UM MEIO DE CONSUMO onde transforma a fé daquele que ora em moeda de troca e compra. Não podemos resumir a oração num negócio, barganha ou troca. Às vezes, nossas orações são transformadas em comércio, onde aquele que ora é o consumidor compulsivo e Deus é transformado em vendedor carente que vende favores em troca de amor. Ou, quando oramos somos como aquela mulher de 20 anos interesseira que casa com um bilionário de 95 anos com a intenção exclusiva de herdar toda a sua fortuna. Ou ainda, antes muitas criança oravam para ganhar de presente uma bola; hoje, toda criança ora desejando um computador. Infelizmente, o conteúdo de nossas orações é determinado pela tecnologia do mundo consumista e capitalista.

ORAR NÃO É UMA FERRAMENTA DE MANIPULAÇÃO DIVINA. A oração não pode ser definida numa relação de manipulação da vontade de Deus ao meu favor, como se Deus fosse convencido a mudar de idéia e atitude para conosco, quando é iludido pelos nossos mais inteligentes argumentos de persuasão. Isso significa que orar não é um amontoado de palavras decoradas, repetitivas e vazias ditas com a intenção de convencer Deus a responder a petição do fiel.

ORAR NÃO É UM RITUAL RELIGIOSO verbalizado com palavras decoradas resumidas num monólogo inerte e vazio que mascara a sinceridade do coração. Porque orar não é um evento nem uma realização que tem um intervalo de tempo com início, meio e fim e nos induz a definir uma dicotomia em nossa agenda – onde "oração" é hora sagrada e "não orar" é uma hora de pecado mundano e secular. Por isso, orar não é um costume religioso tradicional feito por hábito para manter o costume. A oração que é oferecida do tipo “porque eu sempre orei assim desse jeito como sempre me ensinaram” imuniza-nos contra a verdadeira oração, impedindo-nos de encontrar um relacionamento vivo com Deus. O hábito e o costume de orar quando se tornam impensados e automáticos, podem exercer um efeito destrutivo em nosso relacionamento amoroso com Deus. Jesus falou sobre o perigo de “amontoar palavras vazias”, na tentativa de impressionar a Deus em oração. Dizer orações decoradas, sem reflexão séria ou sem intuito pessoal faz correr o risco de tornarem-se em “vãs repetições”, que Jesus tão severamente criticou. Dá-se esse caso, sobretudo, quando se recita a oração “Pai Nosso”, tão repetida. Ironicamente, foi quando Jesus ensinou essa oração aos Seus discípulos que Ele os advertiu sobre os perigos das orações automáticas e desmentalizadas. O profeta Isaías, falando em favor de Deus, expressou isso perfeitamente quando disse: “Visto que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim...” (Isaías 29:13).

ORAR NÃO É NOTICIÁRIO. Orar não é informar Deus os fatos de nossas vidas, como se nossa oração fosse um noticiário e Deus fosse um ouvinte desinformado que ignorasse os fatos de nossa vida, ignorasse quem somos e aquilo que estamos fazendo, pensando e sentindo.

ORAR NÃO É UMA CHANTAGEM EMOCIONAL para extrair o poder de Deus de realizar nossos desejos, como se Deus fosse tão carente e inseguro que precisasse de nossas orações para sobreviver. Isto significa que a oração não é um jeito de ameaçar Deus de abandono e solidão caso Ele não atenda nossos pedidos.

ORAR NÃO É FAZER GUERRA COM DEUS NEM CONTRA O PRÓXIMO. A oração não deve ser feita como uma arma de guerra jurídica para exigir de Deus que ele devolva o que é meu por direito, como se fôssemos donos de nossas próprias vidas e Deus não passasse de um ladrão mesquinho e egoísta que roubou nossos bens. A oração também não deve ser feita como arma de guerra contra o próximo quando usamos a oração como uma “boacumba evangélica” que joga praga para os nossos piores inimigos na encruzilhada dos conflitos.

ORAR NÃO É USAR MÁSCARA DE SUPER ESPIRITUAL. A oração não deve ser transformada num termômetro espiritual que cria comparação e abre as portas do nosso coração para a chegada da febre do orgulho. Porque a oração não é um exercício espiritual de sacrifício para crescer os músculos da justiça própria em nosso coração

“Senhor, ensina-nos a orar”. Precisamos confessar a nossa fraqueza de viver sem orar, a nossa incapacidade de orar com egoísmo e nosso inadequado jeito de orar.

Deus nos convida a aprender a orar a Deus através de nossas fraquezas e debilidades, a fim de crescermos na graça do Senhor Jesus, sendo guiados pelo Espírito Santo que ora em nós e por nós quando não sabemos orar.

Em Cristo, a oração encarnada

Jairo Filho

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