sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Parte 3 - A Bíblia me motiva ir à Igreja


Poucas pessoas sabem exatamente os motivos bíblicos que nos incentivam a sair de casa e promover uma reunião comunitária de adoração a Deus com os nossos irmãos em Cristo. Nessa parte vamos meditar sobre as bases bíblicas que nos induzem ir à igreja para cultuar a Deus em comunidade. É necessário deixar bem claro que nosso objetivo aqui não é examinar exaustivamente a teologia do culto nem fazer um resgate histórico das mais diversas expressões litúrgicas na igreja cristã, como também não é produzir e descrever uma eclesiologia sistemática. Nosso objetivo é simplesmente passear panoramicamente pelas Escrituras Sagradas a fim de encontrar algumas evidências do propósito de Deus em reunir seu povo para adorá-lo e servi-lo mutuamente em amor. Assim, eis 15 motivos bíblicos para ir à igreja:

1. A Bíblia me motiva ir à igreja porque fui criado para adorar a Deus por meio de relacionamentos no culto em comunidade. Isto é, a natureza humana foi criada à imagem e semelhança da trindade. O nosso único Deus é trino: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Deus é uma comunhão entre pessoas divinas, distintas e iguais ao mesmo tempo; e não existe solitariamente. Interessante notar que mesmo sendo criado por Deus e para Deus, e mesmo desfrutando da presença de Deus no Éden, o homem está só. Deus anuncia o diagnóstico da solidão humana quando disse: Não é bom que o homem esteja só...” (Gn 2:18). Ou seja, o homem se sente só pela ausência de um ser semelhante. O homem possuía alguém acima dele – Deus – e também abaixo dele – a criação -, mas não possuía ninguém ao lado dele, como seu igual; e nessa dimensão estava sozinho. Por isso que não é bom que o homem esteja só sem alguém semelhante ao seu lado. A criação do homem seria totalmente completa quando fosse criado alguém semelhante para conviver em relacionamento com o homem. Assim, para o homem ser completo é necessário viver numa relação entre iguais. E refletirá a imagem e semelhança da trindade quando desenvolver essa unidade com o próximo e com Deus. Por isso, podemos dizer: Pessoas precisam de Deus. Pessoas precisam de pessoas. São dois lados da mesma moeda. As pessoas precisam se relacionar com pessoas para serem plenamente pessoas. Ser gente de verdade é estar junto de gente. Ninguém é chamado a viver sozinho. Ninguém é uma ilha humana. Nossa humanidade é restaurada quando há relacionamentos humanos, encontros em comunidade, reunião de pessoas em torno da pessoa e obra de Cristo. Assim, a espiritualidade em Cristo é comunitária e relacional, pois ninguém cultua a Deus sozinho sempre. Em Cristo, somos chamados a conviver com as pessoas e cultuar a Deus juntos. E a verdadeira adoração se expressa quando refletimos a imagem e semelhança de Deus em nós por meio dos cultos em comunidade.

2. A Bíblia me motiva ir à igreja porque Deus chama e reúne seu povo para adorá-lo no culto em comunidade. O Antigo Testamento nos apresenta o culto a Deus feito em e pela família na época de Adão até os Patriarcas. Caim e Abel sacrificaram (Gn 4:3, 4). Noé sacrificou após sair da arca (Gn 8:20). Jó oferecia continuamente holocaustos pela expiação dos possíveis pecados dos seus filhos (Jó 1:5). E lemos no livro de Gênesis os patriarcas cultuando a Deus com suas famílias por meio da circuncisão (Gn 17:9-14), oferecendo seus filhos em sacrifício a Deus (Gn 22:1-19), construindo marcos de adoração a Deus (Gn 28:18). Não se sabe exatamente como eram esses cultos, mas podemos dizer que suas famílias eram testemunhas desses cultos. Na época de Moisés, o povo se reunia para cultuar a Deus, mediados por sacerdotes, usando o Tabernáculo que transportava a Arca da Aliança, a habitação simbólica de Deus. Além disso, os sacerdotes traziam a Palavra de Deus, inscritas nas duas pedras, perante o povo, para a leitura pública da Lei do Senhor. Na época de Davi até o Exílio a adoração era de um povo como um todo no templo. Davi deu prescrições, em nome de Deus, a respeito dos corais, dos grupos instrumentais, dos sacrifícios, do serviço sacerdotal e das festas de sábado. Ou seja, a adoração acontecia no templo com todo povo reunido. Na era do Exílio, com o templo destruído, não há sacrifício nem sacerdote; disso surge a sinagoga como lugar de culto dos grupos fiéis a lei do Senhor. Na era pós-exílica, com Neemias e Esdras, o templo foi restaurado, os sacerdotes e os sacrifícios voltaram, mas a ênfase agora é colocada sobre a leitura pública e ensino da lei do Senhor. Assim, brevemente podemos perceber que todo o Antigo Testamento nos mostra Deus reunindo seu povo para adorá-lo em ajuntamentos públicos com música, oração e pregação da Palavra de Deus.

3. A Bíblia me motiva ir à igreja porque Jesus reúne seus discípulos para adorar a Deus no culto em comunidade. Os evangelhos nos apresentam Jesus chamando e formando discípulos. Nesta formação podemos destacar pelo menos alguns momentos em que Jesus nos ensina a adorar a Deus em comunidade. Primeiro, quando Jesus ensina seus discípulos a orar (Mt 6:9-13). Perceba que a oração ensinada por Jesus é feita com pronomes no plural para indicar a oração em ajuntamento. Os discípulos devem se reunir para orarem juntos ao mesmo Pai que tem filhos, e seus filhos são todos irmãos da mesma família. Esta família reconhece a grandiosidade, a soberania, o reinado, a santidade, a provisão, o perdão e a proteção do Pai. Esta família é chamada a perdoar uns aos outros e a partilhar o pão com os necessitados. O segundo momento de ajuntamento solene é a ceia do Senhor (Mt 26:26-30; Mc 14:22-25; Lc 22:19-20). Jesus reúne seus discípulos para celebrarem, como irmãos da mesma família, a encenação da obra redentora da cruz por meio do vinho e do pão. Além disso, Jesus e seus discípulos cantam um hino juntos em adoração a Deus (Mt 26:30 e Mc 14:26). Terceiro, Jesus ensina o sermão do monte com a multidão e discípulos reunidos (Mt 5 a 7). O propósito de Jesus é que a multidão de ouvintes sejam discípulos que aprendam a viver juntos o evangelho do Reino de Deus. Quarto, Jesus reúne seus discípulos para ensinar lições de serviço, humildade e amor uns aos outros na encenação do lava pés (Jo 13). E no quinto momento, Jesus reúne a multidão carente de pastor, faminta e cansada para operar milagres de cura, ensinar o evangelho do Reino e dar de comer a multidão com o milagre da multiplicação de pães e peixes. Neste milagre destaca-se a maneira como Jesus entregou o milagre à multidão. Jesus ordena a criação de grupos pequenos para transformar a multidão sem rosto numa comunidade humanamente digna e justa (Lucas 9:14). Jesus promove uma nova forma de organização do povo: em vez de uma multidão de gente se acotovelando e competindo para pegar comida, Jesus forma uma reunião de cerca de duzentas e quarenta comunidades, compostas de cinqüenta pessoas cada. E além do mais, levou a multidão ao status de companheiros que compartilham e dividem o mesmo pão; e ainda cuidam e administram para que nada se perca a fim de compartilhar com os demais necessitados em outro lugar e ocasião. Só em comunidades de servos as pessoas podem ser alcançadas e alimentadas por Jesus. Assim, a oração, a ceia do senhor, os hinos cantados, a pregação do evangelho, o serviço, a humildade, o amor e os milagres são feitos no cenário do ajuntamento dos que foram alcançados pela graça de Deus.

4. A Bíblia me motiva ir à igreja porque o Espírito Santo reúne a comunidade dos discípulos de Jesus como Igreja. Após a ascensão de Jesus, houve o derramamento definitivo do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus enquanto “estavam todos reunidos no mesmo lugar” (Atos 2:1). Logo em seguida, Pedro prega para todos reunidos, e três mil aceitaram a palavra e foram batizados. E a igreja em formação se caracterizava pela comunhão. E a comunhão era o cenário para o estudo da doutrina dos apóstolos, do culto de oração, do partir do pão, do temor do Senhor, dos prodígios e sinais (Atos 2:42-47). “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum...Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus...” (Atos 2:44, 46, 47). A igreja orava reunida quando estava sendo perseguida, de tal maneira que “tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo, e com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:24 e 31). “Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão” (Atos 5:12). “E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo”(Atos 5:42). O Espírito Santo se manifestava no meio da igreja reunida para eleger seus obreiros (Atos 6:2 e 5; 13:1-3). Ao voltarem para Antioquia, a igreja reunida ouviu o relatório ministerial de Paulo e Barnabé (Atos 14:27). O Espírito Santo também se manifesta na liderança da igreja reunida para esclarecer a aplicação das doutrinas da Palavra de Deus (Atos 15:28). A igreja reunida é fortalecida pelo conselho bíblico dos líderes da igreja (Atos 15:30-35 e 16:4, 5). Ao voltarem para Antioquia, a igreja reunida ouviu o relatório ministerial de Paulo e Barnabé (Atos 14:27). Assim, uma igreja reunida é o cenário para a manifestação da presença, propósito e poder de Deus.

5. A Bíblia me motiva ir à igreja porque a igreja é o ajuntamento dos crentes em Jesus. A palavra igreja, no grego chama-se "ekklesia", significa reunião, congregação, assembléia do povo de Deus. Esse encontro dos discípulos de Jesus forma a igreja. Para entender isso, as Escrituras do Novo Testamento nos fornecem uma ampla variedade de metáforas e imagens que descrevem a igreja. Vejamos alguns: Paulo vê a igreja como uma família (I Tm 5:1-2; Ef 3:14; II Co 6:18). Somos, portanto, irmãos e irmãs uns dos outros na família de Deus (Mt 12:49-50; I Jo 3:14-18). As diversas faixas etárias, homem e mulher, e graus de filiação formam a diversidade da igreja em ajuntamento. Paulo também se refere à igreja como a noiva de Cristo (Ef 5:32; II Co 11:2) e corpo de Cristo (I Co 12:12-27; Ef 1:22-23; 4:15-16 e Cl 2:29). Surge a idéia do homem coletivo. Em Cristo, todos somos um. Deus olha para a igreja como um ser corporativo unido pela diversidade de seu povo. A igreja não é somente um novo templo para adorar a Deus; é também um novo grupo de sacerdotes, um “sacerdócio santo” que pode oferecer “sacrifícios aceitáveis a Deus” (I Pe 2:5). Há no Novo Testamento a igreja como um grupo de cristãos de qualquer tamanho, desde um pequeno grupo que ser reúne sempre em uma residência (Rm 16:5; I Co 16:19) até o conjunto de igrejas de toda uma cidade (I Co 1:2; II Co 1:1 e I Ts 1:1) ou região (Atos 9:31). Dessa forma, a igreja expressa sua identidade quando promove reuniões públicas para o culto a Deus.

6. A Bíblia me motiva ir à igreja porque o batismo e a santa ceia são ministrados no culto em comunidade. Tanto o batismo (Mt 28:19, 20 e Mc 16: 15, 16) quanto à ceia (Mt26:26-30; Mc 14:22-25; Lc 22:19-20 e I Coríntios 11:17-34) são ordenanças que Jesus deixou para a igreja. E essas ordenanças são realizadas em culto público. Primeiro, o batismo e a pública profissão de fé são cerimônias de consagração feitas publicamente para expressar que os membros da nova aliança – aqueles que receberam de Deus um novo coração (Ez 36:26-27) são membros da igreja local. O batismo e a pública profissão de fé nos identificam como membros da comunidade chamada de povo de Deus – a igreja. Além disso, a ceia do Senhor também é corporativa. Mark Denver disse que: “E tomar a ceia do Senhor é uma participação da unidade da comunhão da igreja em torno da redenção de Jesus Cristo e da proclamação de sua obra e Pessoa salvadora, por meio dos símbolos do pão e do vinho”. Assim, no batismo, a igreja celebra a entrada de mais salvos pela graça no corpo de Cristo e membros na igreja local. Na ceia, todos celebram juntos a visualização evangelística da cruz de Cristo. Tanto o batismo como a ceia do Senhor são celebrações comunitárias de adoração feitas por toda a igreja reunida.

7. A Bíblia me motiva ir à igreja porque a Palavra de Deus é ensinada no culto em comunidade. Quando a igreja se reúne para adorar é extremamente crucial a pregação da Palavra. A Bíblia é doada a todos para que se faça o livre exame das Escrituras, pois Deus fala com cada um de nós em sua Palavra. Porém, sabemos que nem todos tem condições de ler, interpretar e aplicar corretamente a Palavra de Deus. O encontro de Felipe com o Eunuco é um exemplo disso. O Eunuco não entendia às Escrituras que estava lendo; porque, como ele mesmo disse: “Como poderei entender, se alguém não me explicar?” (Atos 8:30 e 35). Por isso, devemos reconhecer que o Espírito Santo concede dons de profeta, mestre, evangelista, pastor-mestre para alguns vocacionados ao ministério da Palavra (I Co 12:8-10, 28; Ef 4:11; Rm 12:6-8). Os apóstolos são exemplos de quem recebeu esse dom. Eles enfatizaram o ensino bíblico em todas ocasiões em que a igreja estava reunida. Pedro explica toda a manifestação do Espírito Santo no Pentecoste a toda igreja reunida e aos povos de todas as nações que estavam visitando Jerusalém (Atos 2:14-36). Estevão faz um longo discurso antes de ser assassinado (Atos 7:2 – 53). Paulo pregava nas sinagogas afirmando que Jesus é o Filho de Deus (Atos 9:20). O Espírito Santo reúne Cornélio, seus parentes e amigos íntimos para ouvir a pregação de Pedro (Atos 10:24, 27). E quando ainda Pedro falava “caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra”(Atos 10:44). A Palavra de Deus foi pregada à igreja reunida quando Barnabé e Saulo foram à Antioquia. “E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão” (Atos 11:26). Paulo pregava no meio da multidão que afluía para ouvir a palavra de Deus (Atos 13:16-41 e 44). Paulo e Silas pregam aos bereanos reunidos na sinagoga que “receberam a palavra com toda avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17:11). Em Trôade, Paulo exortava os irmãos reunidos com um discurso público até romper da alva. E a ênfase do ministério de Paulo na igreja de Éfeso foi à pregação pública da Palavra (Ef 20:17-38). Dessa forma, Deus ordena aos pastores que leiam regularmente a Bíblia e a pregue na adoração pública da igreja (I Tm 4:13; II Tm 4:2). Quando um culto é centralizado na pregação da Palavra, a vida e o crescimento da igreja local acontecem naturalmente pelo poder da Palavra de Deus. Assim, a Escola Bíblia Dominical, o culto de adoração no domingo à noite, os cultos de estudo Bíblico, a classe de discipulado para novos membros; enfim, todas as programações da igreja devem ser centralizadas e baseadas na pregação da Palavra de Deus.

8. A Bíblia me ensina ir à igreja para orar com os irmãos em comunidade. O culto comunitário é o contexto onde oramos para adorar a Deus e oramos para interceder uns pelos outros. “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens” (I Tm 2:1). Este mandamento é dado no início de um capítulo que o apóstolo Paulo instrui a Timóteo sobre a organização e a adoração corporativa. Vale lembrar que Jesus citou o profeta Isaías, ao dizer: “A minha casa será chamada casa de oração” (Mt 21:13). A Bíblia nos ensina a forma de orar (Mt 6:5-8) e o conteúdo da oração (Mt 6:9-13). Em Atos 12:12 vemos a igreja reunida orando na ocasião da prisão e libertação de Pedro da prisão (Atos 12:1-11). A oração nas reuniões da igreja é o contexto para o povo de Deus ser mais sensível a presença amorosa e a manifestação poderosa de Deus. Dessa forma, todo e qualquer culto deve ter oração; e devem ter cultos voltados especificamente para a oração. Sem oração não há culto.

09. A Bíblia me motiva ir à igreja porque a música cantada congregacionalmente é um instrumento que me conduz à adoração comunitária. Antes de tudo, temos que entender que música não é adoração, mas apenas um instrumento que nos ajuda a cantar em uníssono a nossa adoração comunitária. Também temos que entender que a adoração cantada não consiste em priorizar a satisfação pessoal do auditório, quer de nós mesmos, quer de toda a congregação, quer dos incrédulos interessados. A adoração musical no ajuntamento coletivo é um serviço de consagração, entrega e doação de nossa vida a Deus. As letras das músicas devem ser totalmente coerentes com o evangelho e nos conduzir a confessar nossa pecaminosidade, receber a graça e misericórdia de Deus, adorá-lo por sua bondade para conosco, reconhecer nossa extrema carência e dependência de Deus, responder com amor, fidelidade e santidade em toda circunstância, falar bem do caráter e das obras de Deus etc. Quando cantamos a Palavra de Deus juntos, forjamos a unidade de fé, vida e doutrina, pois nossas canções congregacionais funcionam como credos confessionais. A música cantada pela igreja em uníssono oferece linguagem bíblica e oportunidade de encorajar uns aos outros na Palavra, na fé e na adoração ao único Senhor. Isso implica que ao nos reunir estamos lembrando uns aos outros que não estamos sozinhos em nossa confissão de fé em Jesus. Quando estamos cantando juntos, evidenciamos a natureza participativa da adoração por meio da música. Como a adoração é um serviço ativo, a música congregacional nos livra de assistir ao culto como espectadores passivos. Além disso, a música congregacional nos livra e nos afasta do perigo do culto de entretenimento quando há ênfase extremada e exclusiva nas apresentações especiais de solistas, onde a congregação só fica assistindo passivamente o show do músico. Por isso, o estilo de música escolhido no culto público deve ser a música congregacional – o canto que envolve a participação ativa de toda a congregação. Assim, deve ser usado o canto congregacional como expressão de unidade e harmonia da congregação reunida.

10. A Bíblia me motiva ir à igreja porque há reciprocidade espiritual para a edificação de toda a comunidade reunida em culto. O culto comunitário é o espaço para que todos o crentes desenvolvam a reciprocidade espiritual na edificação da fé. Como? "Falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais” (Ef 5:19). “Que fazer, pois irmãos? Quando vos reunis, um tem um salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele ,outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para a edificação...para todos aprenderem e serem consolados” (I Co 14:26 e 31). “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazeio-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Col 1:16, 17). Assim, o culto é a oportunidade de cada um ajudar o outro na fé e a exercer reciprocidade através do compartilhar das vidas e do serviço mútuo.

11. A Bíblia me motiva ir à igreja porque os dons do Espírito e os ministérios são desenvolvidos no culto em comunidade. O texto de I Coríntios 14 registra o ensinamento de Paulo sobre a manifestação e o uso correto dos dons do Espírito Santo durante o culto corporativo (I Co 14:23). Quando há o uso correto dos dons, os pecadores não salvos são convencidos do pecado, tornam-se vulneráveis e sensíveis a verdade a respeito de si mesmo; ou seja, eles olham para dentro do seu próprio coração e percebem a miséria pecaminosa deles mesmos. Além disso, o Espírito usa os dons do Espírito para atrair os não salvos para Deus, de tal modo que a presença de Deus é reconhecida quando exclamam: “Deus está, de fato, no meio de vós” (I Co 14:24). Assim, todo elemento do culto é feito para a edificação da igreja quando todos aprendem a Palavra e recebem a consolação do Espírito Santo. Além disso, os ministérios de serviço são criados, desenvolvidos e expressos a partir do ajuntamento dos crentes em Jesus (I Co 12:8-10, 28; Ef 4:11; Rm 12:6-8 e I Pe 4:11). Esses dons e ministérios só são conhecidos quando há ajuntamento público e convivência mútua entre os crentes da igreja. Quando reconhecemos que algumas pessoas tem certos dons e ministérios é aberto espaço para a liderança e o serviço ministerial de alguns. É neste contexto que a igreja reunida reconhece os dons dos pastores, presbíteros, diáconos e demais obreiros e os elege para servi-los oficialmente e publicamente como detentores de autoridade em benefício de toda a igreja (Atos 6:1-7; 13:3; Fp 1:1; I Tm 4:14; I Tm 5:17-21; I Tm 3:2-5, 10; I Tm 3:8, 13; Tito 1:5; I Pe 5:2-5). Outra forma de serviço quando a igreja está reunida é a partilha e a oferta voluntária aos necessitados (Atos 2:45 e 4:32-34, II Co 8:1-5). A palavra "ekklesia", além de significar reunião, assembléia também significa "enviados para fora" (Atos 13:1-3). Isso quer dizer que o todo ajuntamento da igreja deve promover seu espalhamento pelo mundo, quando, abastecida e capacitada ministerialmente a partir de seus ajuntamentos, a igreja sai para fora do templo para servir o próximo sinalizando o Reino de Deus no mundo através dos dons do Espírito descobertos e amadurecidos nos ajuntamentos e exercidos no mundo. Assim, a igreja serve a Deus espalhada no mundo porque periodicamente se reúne para expressar sua identidade reunida ou espalhada no mundo; e ainda, se organizar para, unida, servir a Deus no mundo com muito mais poder.

12. A Bíblia me motiva ir à igreja para cultivar e preservar a membresia na igreja local. Não há explicitamente versículos que nos ordenem sobre a membresia da igreja local. Porém, há indícios explícitos de que havia membros conhecidos das igrejas locais citadas no Novo Testamento que nos indicam a importância de um rol de membros na igreja local. Exemplo: O caso de disciplina na igreja de Corinto presume um conhecimento público de quem pertencia à igreja e de quem não pertencia (I Co 5:12, 13). Quando Paulo disse à igreja de Corínto que readmitisse o ofensor à sua comunhão, ele declarou: “Basta-lhe a punição pela maioria” (II Co 2:6). A “maioria” citada só faz sentido no contexto de que a igreja conhece visivelmente e exatamente quem são seus membros na igreja local para distinguir entre o todo, a maioria e a minoria. Além disso, temos algumas listas de cristãos de algumas igrejas locais reconhecidos pela sua fé e obra (Rm 16:3-16; Cl 4:10-17; I Tm 5:9). A membresia da igreja local é importante para fazer distinção clara e visível entre o povo santo e o mundo perdido. Esta distinção serve para produzir um melhor testemunho corporativo da igreja para a sociedade incrédula.

13. A Bíblia me motiva ir à igreja para ser pastoreado com o discipulado contínuo e disciplina quando necessário. A igreja é a vida comunitária dos crentes em Jesus para a convivência mútua de relacionamentos e para o testemunho cristão no mundo através do serviço à sociedade incrédula. Valorizando a convivência da igreja há o discipulado. Valorizando o testemunho da santidade do cristão no mundo e a santidade de Deus na igreja, às vezes, há a necessidade de disciplina. Sabendo que cada igreja local é designado um pastor, devemos entender que cada membro deve ser pastoreado com um discipulado pessoal e contínuo. Quando somos membros de uma igreja local há uma relação de discipulado entre o pastor e a ovelha. Assim, o pastor está ciente de que o membro é prioridade para o cuidado pastoral. E o membro abre espaço para receber a autoridade do pastor e sua vida.

14. A Bíblia me motiva ir à igreja porque a congregação reunida tem livre acesso para adorar a Deus por meio de Jesus guiado pelo Espírito Santo. O autor aos hebreus diz: “Não descuidemos os nossos deveres na igreja, nem as suas reuniões, como algumas pessoas fazem, mas animemo-nos e nos admoestemos uns aos outros, especialmente agora que o dia da sua volta está se aproximando.” (Hb 10:25). Não deixemos de nos congregar, porque, em Cristo, temos livre acesso a Deus pelo Sangue de Jesus (Hb 10:19). A igreja se reúne para estar na presença de Deus por meio de Jesus “para estimular-nos ao amor e às boas obras" (Hb 10:24b), e ainda no ajuntamento há oportunidade de encorajar uns aos outros a preservar na fé.

15. A Bíblia me motiva ir à igreja porque o amor de Deus Pai, a obra redentora de Jesus Cristo e o ministério do Espírito Santo me convocam a reunir por amor com meus irmãos em comunidade. Jesus disse que o mundo saberia que a igreja são seus discípulos quando o amor se manifestar uns pelos outros no mesmo molde do amor de Jesus por nós (Jo 13:34-35). A igreja é a comunidade dos salvos pela graça da cruz; é a comunidade da família do amor e a comunidade dos servos humildes que exercem seus dons mutuamente em favor da edificação da igreja e da sinalização do Reino de Deus no mundo. Esse é o plano de Deus em reunir seu povo e essa é a obra do Espírito Santo em edificar uma igreja que se reúne e se espalha no mundo. Na comunidade cristã reunida nós temos o compromisso de desenvolver e crescer rumo ao amadurecimento espiritual de todos os crentes “...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus...seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo...para edificação de si mesmo em amor” (Ef 4:13-16). Quando essa verdade é experimentada desenvolvemos naturalmente a cultura do ajuntamento coletivo para o culto. Sabendo que a igreja, como corpo de Cristo, é uma entidade corporativa podemos encorajar os mesmos a priorizarem na agenda de suas vidas à freqüência semanal aos cultos mais do que uma vez por semana, a desejarem a presença dos irmãos nas reuniões da igreja, a incentivá-los a descobrir seus dons e ministérios dando espaço e oportunidades para o serviço cristão, a encorajá-los a orar e aconselhar uns aos outros, e participar ativamente da liturgia do culto público.

Conclusão: Pensar sobre ajuntamento cristão para culto abre espaço para a necessidade de pensar na identidade e missão da igreja. Vale lembrar que o propósito desse estudo não é produzir ou descrever uma eclesiologia sistemática, mas, simplesmente, meditar nas bases bíblicas que me motivam a promover o ajuntamento dos discípulos de Jesus para adorar a trindade e servir o próximo enquanto sinaliza o Reino de Deus no mundo através de seus relacionamentos dentro e fora dos ajuntamentos. Também vale lembrar que a identidade de ser discípulo de Jesus como sua igreja transcende os ajuntamentos. O Reino de Deus é sinalizado quando há o espalhamento dos crentes em Jesus salgando toda a terra. Essa idéia é o outro lado da moeda de ser igreja. Sendo assim, devo pontuar que meu destaque nesse estudo é encontrar bases bíblicas para a promoção de ajuntamentos sadios entre os discípulos de Jesus. Releia, pense, avalie, acrescente, remova, concerte e amadureça tudo o que escrevi até agora. Também preciso de sua ajuda para ser igreja e ir à igreja com você. Pois juntos, reunidos em nome de Jesus, somos a igreja.

Em Cristo, o Senhor da igreja que nos reúne como seu corpo para adoração e serviço no mundo

Jairo Filho

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