quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Isto é ou não é pecado?

A rejeição da autoridade legisladora, a relativização da verdade e a renúncia à confissão de pecados exigem uma revisão profundamente bíblica do conceito de pecado. Se observarmos o comportamento social, cultural e religioso vamos perceber que a definição de pecado sofre metamorfoses com o passar dos tempos. 

Vejamos alguns exemplos do que é e do que não é pecado com o passar dos tempos:

As práticas de roubar, mentir, promiscuidade sexual, matar e de trazer o mundo para dentro da igreja são relativizadas pela cultura pós-moderna quando não são consideradas pecados em determinadas ocasiões.

1. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE ROUBAR É PECADO, mas que roubar de nosso governo corrupto não é tão pecado assim. Quando eu era criança cheguei um dia no templo da igreja e fiquei assustado por perceber que a igreja tinha sido roubada. Olhei e li rabiscado na parede a escrita: “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Entendi que a garantia do perdão do roubo pelos ladrões era baseada no fato de que eles roubaram ladrões. Eles eram iguais a todos os que sonegam impostos ao governo, uma vez que já estão sendo roubados pelo governo. No fim das contas, somos tipicos Robin Hood com jeitinho brasileiro de nos auto-justificarmos por roubar com pirataria um governo corrupto. Logo, aqueles que roubaram a igreja são exatamente iguais aos moralmente corretos cidadãos que sonegam o governo. Assim sendo, roubar nem sempre é pecado. Será?

2. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE MENTIR É PECADO, mas mentir para preservar o emprego não é pecado. Um dia certo funcionário foi intimado a levantar uma calúnia contra seu colega de trabalho para que fosse preservado o seu emprego e o seu colega fosse demitido por justa causa. Se não houvesse mentira, o funcionário é quem seria demitido. Diante desse dilema, mentir é pecado para preservar o sustento da própria família em detrimento de uma mentira forjada? E o que dizer daquele taxista que é flagrado numa infração de trânsito e terá sua carteira apreendida caso não minta para o guarda rodoviário? Se ele não mentir perderá o emprego e o sustento de sua família. Nesse caso, mentir é pecado? 

3. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE TODA DEPRAVAÇÃO SEXUAL É PECADO. O adultério é pecado, mas muita gente concorda que se apaixonar por outra pessoa quando o casamento está em crise é uma boa saída para apimentar e valorizar a relação conjugal ou um meio para um divórcio justo. Há um exemplo de adultério no cinema. O filme "Titanic" mescla uma história real de naufrágio com uma aventura romântica. O roteiro mistura uma tragédia com um adultério. E quase ninguém percebe isso. A personagem Rose tem um noivado em crise com um homem rico e chato. Nesse cenário, aparece o lindo e aventureiro Jack conquistando e transando com a Rose. Resumindo: O autor desse filme conduz todo espectador a torcer pela aventura romântica de adultério entre Jack e Rose. Pior ainda: Muitos queriam estar no navio exatamente no lugar dos dois. Nesse caso, aprendemos que adultério nem sempre é pecado. Ou é? Vejamos outros exemplos:
  • Sabemos que o adultério sempre foi visto como pecado grave tanto pela religião cristã como pela ética e a moral da sociedade laica. Mas com o passar dos tempos, alguns casais encontraram a justificativa, a permissão e a solução para o ciúme e o adultério: swing, a troca de casais. Há um acordo entre os cônjuges para não haver ciúmes: É a promoção do sexo pelo sexo. E com isso, o swing deixa de ser mais uma aberração sexual para ser apenas mais uma opção sexual de relacionamentos. E, em nossa atual geração, quem discordar disso é considerado preconceituoso e retrógado. 
  • Nas décadas das famílias tradicionais no Brasil era absurdo falar em e com homossexuais; hoje, isso é considerado crime de homofobia. E isso influencia a educação sexual entre pais e filhos. Luis Fernando Veríssimo demonstra essa mentalidade quando desenhou uma tira da Família Brasil na qual o avô pergunta à neta grávida se o bebê seria homem ou mulher, ao que ela respondeu com naturalidade: “Não sei, vai escolher quando crescer”.
  • Para você ter uma idéia, temas ligados a sexualidade sempre foram um grande tabu no meio evangélico, a ponto de serem sempre considerados pecado. Mas, hoje, para surpresa de alguns poucos, existem igrejas a favor de todas as opções e orientações sexuais; e, até mesmo, há a ordenação de pastores gays ao ministério em igrejas evangélicas. Veja uma dessas igrejas clicando AQUI
  • Antes, não ser virgem era motivo de discriminação; hoje é o contrário. Surgiu recentemente uma propaganda na TV que mostrava uma avó com sua neta no restaurante. A avó censura sua neta por usar chinelos no restaurante. A neta prontamente responde que ela não usava simples chinelos, mas sandálias que combinavam com ambientes chiques; e logo em seguida, a neta censura a avó por ser atrasada e não ser tão moderninha como ela. Em seguida, aparece um ator galã no restaurante. As duas olham para ele com admiração. A avó sugere para neta arrumar um galã como aquele ator. A neta, imaginando que a avó está pensando em casamento, responde que acha chato casar com homem famoso. A avó prontamente responde: “Mas quem falou em casamento? Eu to falando de sexo”. A neta suspira surpreendida com a resposta e escuta ainda a avó dizer: “Depois eu ainda sou a atrasada?” Perceba a mensagem da propaganda: Usar as sandálias é ser tão moderno quanto alguém que faz sexo casual. O que era um tabu há alguns anos, agora vira sinônimo de modernidade. Assim, hoje quem não faz e curte um “affair” é careta atrasado e retrógado. Os valores éticos e morais da sexualidade em nossa cultura estão se invertendo cada vez mais. O que era imoral, agora é moralmente aceito com naturalidade. E o que era errado vira certo. Pense: Essa vovozinha teria essa mesma mentalidade quando ela era jovem?
  • Espero estar errado, mas do jeito que a carruagem está andando, suspeito que, com o passar do tempo, os pedófilos deixem de ser vistos como criminosos e conquistem sua vez e voz  de aprovação na mídia. Será que no futuro iremos achar normal um homem de 50 anos transar apaixonado por uma menina de 8 anos? Já imaginou daqui a alguns anos uma parada do orgulho pedófilo lotando e atraindo multidões nas avenidas famosas do mundo?
3. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE MATAR É PECADO, mas matar o pedófilo que estuprou e matou a menininha de sete anos não é pecado. Não é a toa que o tema da pena de morte e a legalização do aborto estão sempre na pauta de discussão da sociedade e nunca há unanimidade sobre a questão. Assim, os fins justificam o pecado e relativizam a verdade. Em outras palavras, para algo ser pecado é preciso que seja um crime hediondo que extrapole a consciência mais depravada. E mesmo assim, tem gente que discorda disso.
4. (QUASE) TODO MUNDO CONCORDA QUE TRAZER O MUNDO PARA DENTRO DA IGREJA É PECADO. Semelhantemente, os valores religiosos também seguem esse mesmo rumo. Vejamos alguns exemplos: 
  • Com relação à música na liturgia do culto público, vale lembrar que muita gente não sabe que o órgão, instrumento musical sacralizado no início da igreja protestante evangélica no Brasil, era usado em cabarés nos USA. As igrejas do passado abominavam instrumentos musicais de corda e percussão. A guitarra, o baixo, a bateria eram rejeitados pela igreja por serem considerados instrumentos mundanos e endemoniados. Até bem poucos anos atrás, os instrumentos de percussão - como, por exemplo, atabaque, pandeiro e triângulo - eram rejeitados e proibidos no culto cristão por serem os mesmos instrumentos usados nos cultos das religiões afro-brasileiras. Mas hoje, você encontra uma igreja evangélica que proíba estes instrumentos musicais; agora, sacralizados? 

    • Acompanhar músicas agitadas batendo palmas era trazer o mundo para dentro da igreja. Pois as palmas eram sinônimo das festas carnais e brecha para a dança. E por falar nisso, a dança sempre foi um grande pecado capital para a cultura evangélica. Era considerada mundana demais para ser aceita e praticada. O corpo humano sempre foi visto pela ótica do dualismo gnóstico que considera o corpo o cárcere da alma; onde a alma é boa e o corpo é matéria má. Assim, durante anos e ainda hoje o culto verdadeiro sempre é considerado aquele em que saímos do corpo para produzir uma abundância de êxtase emocional ou abundância de meditação intelectual. Não é a toa que a verdadeira e espiritual oração deve ser feita sempre de olhos fechados. Para muitos, peca quem ora de olhos abertos. Porém, atualmente, cada vez mais, uma igreja que não dança com suas coreografias é uma igreja morta e dança no mercado competitivo gospel de ser a melhor igreja. 

    • Por outro lado, para você ter uma idéia, há, em nossos dias, forró evangélico que reúne casais para dançarem nos cultos dentro ou fora dos templos. O rock 'n' roll odiado por tantos anos pelos cristãos e definido como música mundana e diabólica, atualmente é a mais sacralizada trilha sonora de adoração de nossa geração. Para você ter uma idéia, em 1982 houve uma campanha de oração no Brasil contra a primeira edição do Rock in Rio. Na sua terceira versão em 2001, um grupo gospel, Oficina G3, participou da abertura desse evento sem nenhuma polêmica entre os evangélicos. 

    • No passado, a moça que usava calça, maiô ou biquíni era considerada vulgar onde quer que fosse. E a mulher evangélica que usasse maquiagem ou andasse na moda era vista como pecadora, mas hoje há desfile de modas nas igrejas com modelos profissionais cristãs. 

    • Na década de trinta um homem de respeito usava chapéu, boina, boné. Hoje, o chapéu ou boné na igreja é considerado desrespeito a Deus. O homem de terno e gravata sempre foi visto como homem santo e mais espiritual do que outros. Um homem sem terno e gravata era proibido de pregar de púlpito em algumas igrejas. Hoje o terno e a gravata estão virando sinônimo daqueles que participam das máfias do colarinho branco em Brasília. E até mesmo ladrão de banco se veste de terno de gravata. E em muitas igrejas do litoral, há a moda de pregar de bermudão e camiseta, e ir ao culto de shorts e roupas descoladas de verão.   
    Agora imagine comigo um evangélico da década de 1930 no Brasil entrando na máquina do tempo e chegando em 2010. O que ele pensaria ao ver todos os usos e costumes culturais condenados pela igreja se tornarem próprio ao ambiente de culto? Agora imagine eu e você entrando na máquina do tempo e chegando em 2050. O que será ou não será pecado nessa época? 

    A grande dúvida é que o que é pecado hoje, amanhã não é mais. Logo, como vou saber se isso é pecado ou não? Alguém pode dizer: "Hoje isso é pecado, mas espera mais um tempo que daqui a pouco não será mais pecado; e assim, você pode fazer o que tanto deseja". Afinal, o que é pecado? 

    Não quero analisar todos os casos culturais e religiosos citados acima, mas quero dizer que ao mesmo tempo é positivo perceber que muitos hábitos e conceitos culturais vêm sendo reciclados com o passar do tempo, como também é negativo perceber que muitos valores morais, éticos e bíblicos absolutos estão sendo negociados e relativizados.  

    A conclusão que chegamos é que falar sobre pecado não se resume em cumprir ou não cumprir regras e leis religiosas . Também pecado não são usos e costumes culturais que são mutantes com o passar dos tempos. Devemos entender o significado bíblico de transgredir a lei de Deus e diferenciá-lo da transgressão às leis religiosas e usos e costumes culturais. As leis religiosas são mutantes com o passar do tempo, pois são fabricações da religiosidade cristã. E a cultura é dinâmica com o tempo e seu povo. Mas a lei de Deus é boa, absoluta e imutável, pois é legislada com a autoridade e a verdade do Deus amoroso, santo e justo (I Tm 1:8) para todos os tempos e culturas. Este é o pre-requisito bíblico para definir biblicamente o conceito de pecado e traduzi-lo a nossa atual geração.

    Em Cristo, o nosso único santo e modelo de santidade



    Jairo Filho

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