sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Como reagir às dores da vida? Parte 1

No seu livro “Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas”, o Rabino judeu Haroldo kushner conta sua experiência pessal de enfrentar uma insupertável dor em Família. Ele conta que teve um lindo e inteligente filho chamado Aaron. De repente, Aaron começou a não ganhar peso, seu crescimento se tornou retardatário, seu cabelo começou a cair. Algum tempo depois, os médicos pronuciaram o diagnóstico: Aaron sofria de progéria, uma espécie de nanismo congênito em que o indivíduo apresenta aspectos externos e faciais de velhice precoce, com queda dos cabelos, pele enrugada, magreza etc. O médico disse que Aaron não passaria dos 90 cm de altura, que não teria cabelos na cabeça nem pêlos no corpo, que se pareceria com um velho sendo ainda uma criança e que morreria no início da adolescência.

Como alguém reage a notícias como estas? Harold Kushner relata sua primeira reação: “O que eu senti aquele dia foi uma sensação profunda e dolorida de deslealdade. Nada fazia sentido... Como isto podia acontecer a minha família? Se Deus existia, se Ele tinha um mínimo de equidade, pelo menos para amar e perdoar, como podia Ele fazer isto comigo? E mesmo que eu conseguisse me convencer de que merecia aquela punição por algum pecado de negligência ou orguho de que não tinha consciência, por que Aaron deveria sofrer? Era uma criança inocente, entrando feliz no seu terceiro ano de idade. Por que deveria ele sofrer física e psicologicamente todos os dias de sua vida? Por que deveria ser observado com curiosidade, apontado, onde quer que chegasse? Por que a condenação de chegar até a adolescência, de ver os outros meninos e meninas começarem a namorar e de perceber que ele jamais conheceria o casamento ou a paternidade? Simplesmente, não fazia sentido.” O Rabino ainda conta seu drama de comemorar o aniversário de seu filho com o sentimento de alegria pelo crescimento de seu filho, mas com o sufoco do conhecimento prévio de que aquele aniversário os aproximava mais do dia em que ele seria tirado deles. No fim das contas, Aaron morreu dois dias depois de completar 14 anos.

Confesso que eu não tenho noção da dor desse homem que experimenta esse tipo de dor, tortura, agonia e desespero. Também confesso que se sentisse uma pequena porcentagem desse sofrimento eu não teria respostas para tantas interrogações que a minha crise de fé iria fabricar. Confesso que não consigo entender por que os mais obedientes e comprometidos jovens cristãos ficam paralíticos por causa de um desastre de carro. Não sei porque pessoas alegres e amáveis são pegos de surpresa e levados ao leito da enfermidade. Nem muito menos compreendo por que bons pais são forçados a gerar e criar filhos deficientes e a conviver com a discriminação social por toda a vida. Nem me pergunte por que crianças inocentes são violentadas por animalescos pedófilos cruéis, porque não sei te explicar. Nem me chame para dar uma palestra na APAE para explicar por que um Deus amoroso e poderoso criou crianças deformadas só para viverem sofrerendo nesse mundo como deficientes e discriminadas. Minha teologia é freada por tragédias como a do dia 11 de setembro no World Trade Center, Tsunami, Auschwitz e muitas outras tragédias históricas. Nunca ousaria explicar as causas do sofrimento e sua relação com o caráter de Deus no leito de hospital para Jaqueline Saburido, uma moça que sofreu um acidente de carro, por culpa de um bêbado irresponsável e homicida que a deixou com quase 60% do corpo queimado e sabe que está sentenciada a (sobre)viver deformada pelo resto da vida.

Assim sendo, a primeira melhor reação ante ao sofrimento é não se contorcer nem se expremer todo buscando fabricar, analisar, formatar, explicar, argumentar e ensinar intelectualmente as origens e causas do sofrimento dos inocentes. Até por que se eu ou você conseguir essa façanha - que é e foi impossível para todos os teólogos e filósofos destes últimos séculos - o sofrimento não acabaria. E além do mais, minhas palavras não passariam de elucubrações abstratas, frias, apáticas e indiferentes ao dolorido e traumatizado coração daqueles que sofrem sedentos simplemente por uma palavra e uma mão amiga e solidária de consolo e compaixão.

Além do mais, quando o coração está dolorido, todo exercício filosófico para explicar o sofrimento dos justos não passa de uma irritação e um arranhão na ferida aberta. Todas as elucubrações intelectuais e cartesianas sobre o sofrimento só fabricam crises de fé, niilismo existencial, desespero, dúvidas, incredulidade, cinismo. Resumindo: Explicar o sofrimento dos justos é como correr atrás do vento ou do próprio rabo. Não chegaremos em lugar nenhum. Poupe suas energias intelectuais e descanse teu coração no colo do Pai.

Em Cristo, que nunca se esforçou intelectualmente para explicar o sofrimento dos justo advogando Deus

Jairo Filho

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