segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O contexto do milagre

Estamos diante de um drama: Jesus tinha passado o dia inteiro fazendo seu ministério acontecer no meio do povo. O “dia começava a declinar” (Lc 9:12) e Jesus decide se retirar “para um lugar deserto, à parte” (Mt 14:13), indo a “sós no barco para um lugar solitário” (Mc 6:32), atravessando “o mar da Galiléia, que é o Tiberíades” (Jo 6:1). E “retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida” (Lc 9:10b), porque tanto Jesus como seus discípulos “não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham” (Mc 6:31). “Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos” (Jo 6:3).

Quando a multidão percebeu que Jesus não estava mais a vista deles, “seguindo-o por terra” (Mt 14:13, Lc 9:11b), “correram para lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram antes deles” (Mc 6:33b), “porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos” (Jo 6:2b). Aqui já vale registrar a motivação do povo para seguir Jesus: a cura dos enfermos. Ou seja, a cura das enfermidades era a motivação e a intenção da multidão seguir Jesus. Se Jesus não curasse, será que a multidão seguiria Jesus?

É nesse contexto da necessidade de retiro espiritual de Jesus e a multidão interrompendo seu descanso, silêncio e solitude que o milagre da provisão pede para acontecer. Este é o contexto: Jesus está cansado e a multidão está interessada nele por causa das curas realizadas. Como Jesus reagiu a esse cenário? Como Jesus aproveitou essa oportunidade? 

Antes de tudo, temos que prestar atenção no seguinte fato: Em todo o ministério de Jesus, os discípulos estavam engajados na sua agenda ministerial; caminhando nos passos evangelisticamente intinerantes de Jesus; convivendo com os encontros e desencontros de Jesus com as pessoas; testemunhando ocularmente os sentimentos e temperamentos de Jesus; participando dos milagres de serviço que Jesus realizava para os necessitados; acompanhando as ações e reações amorosas de justiça, vida e paz promovidas por Jesus; experimentando a espiritualidade de Jesus no seu relacionamento com Deus, consigo mesmo e com seus discípulos, sua família, multidão, religiosos, enfermos e pecadores marginalizados; e aprendendo a ser semelhantes a Jesus no caminho da vida.

Nessa convivência íntima de Jesus com seus discípulos podemos lembrar da lição de humildade e serviço (Jo 13). Algumas horas antes de ir ao Getsêmani, experimentar o prelúdio das agonias da crucificação, Jesus lava os pés dos seus discípulos, como sendo uma encenação teatral pedagógica para ensinar acerca do serviço humilde ao próximo. Após o fim da lição encenada, Jesus conclui deixando a seguinte missão: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. (Jo 13.15). Esta encenação do lava pés é uma sombra do que haveria de vir logo após – a crucificação. Aqui está o modelo de serviço: Jesus. Isso implica dizer que todo o discípulo de Jesus deve imitá-lo em seu serviço ao próximo. Esta é a vontade e o plano de Deus revelada em Jesus para a vida de todos os seus discípulos.

Diante dessa declaração temos que fazer três destaques: (1) Jesus serviu para ser nosso exemplo. Esta é a sua misão de vida: Servir e não ser servido (Mt 10:45 e Mc 20:28). (2) O modelo do serviço é Jesus. Isso implica dizer que o método, o propósito, as motivações, as intenções, os valores, os conceitos, os critérios e a escolha do público-alvo envolvidos no serviço de Jesus devem ser imitados. (3) Somos chamados para servir à moda de Jesus. A partir do que foi dito, surge uma conclusão que implica em missão. Se Jesus é o nosso exemplo de serviço, somos chamados para sermos servos porque Jesus foi servo; e servirmos do jeito de Jesus. Jesus conclui a mensagem do lava-pés com uma promessa de felicidade para aqueles que vivem para servir dizendo: “Ora, se sabeis estas coisas, bem aventurados sois se as praticardes.” (Jo 13:17). Assim, vivemos para servir e servimos para gerar vida. Como sempre é dito por muitos, quem não vive para servir, não serve para viver. Pois, segundo Jesus, aquele que serve se torna mais parecido com Jesus. E quem se torna mais parecido com Jesus recebe a regeneração continua por toda vida. Ou seja, nossa humanidade é restaurada quando servirmos à moda de Jesus. Nos tornamos mais humanos à medida que servirmos. Por isso servirmos para tornar tornar o mundo mais humano. Isto é felicidade: servir para ser semelhante a Jesus. Servir para regenerar a humanidade idealizada por Deus em nós e no mundo.

Esses princípios entendidos e aplicados no contexto do milagre da multiplicação de pães e peixes nos ajuda a olhar para esse milagre interpretando-o como serviço de Jesus que deve ser imitado. Ou seja, o milagre de Jesus revela o caráter de Deus em sua relação conosco. E também revela o jeito que Jesus fez o milagre de modo que seja copiado pelos seus discípulos. Jesus é o milagre do povo para que todo discípulo, semelhante a Jesus, seja o milagre do povo para o povo.

Em Cristo, o milagre da provisão a ser imitado para sermos a provisão do milagre de acabar com a fome da alma do mundo

Jairo Filho

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