quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Igreja da Multidão


Em Mateus 16: 13-20, Jesus faz duas perguntas aos seus discípulos: A primeira pergunta é: “Quem diz o povo ser o Filho do homem?” Jesus queria saber o que o povo pensava dele; ou seja, qual a identidade que o povo atribuía a Jesus? E a segunda pergunta foi: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” Jesus agora quer saber o que os seus discípulos pensavam dele? Porque toda relação com o outro surge a partir da identidade que lhe atribuímos, independente se essa identidade atribuída corresponde ou não com a identidade assumida pelo outro. Estas duas perguntas nos levam a perceber que Jesus considera dois tipos de pessoas: a multidão e o discípulo. Jesus quer saber qual sua reputação diante do povo e como é visto o seu caráter diante dos seus discípulos. Disso, surgem duas igrejas: A Igreja da Multidão e a Igreja dos Discípulos.

Para a primeira pergunta é respondido que o povo atribuiu ao Senhor Jesus a identidade de um grande profeta, e comparavam Jesus aos marcantes profetas no passado de Israel: Elias, Jeremias e João Batista. Ou seja, Jesus está na mesma categoria e nível de identidade dos profetas e nada mais que isso. O povo errou a identidade de Jesus. Porque o povo tinha um relacionamento distante de Jesus. Na verdade, o povo nem sabia quem era Jesus e nem se importava com sua verdadeira identidade, porque buscavam exclusivamente os milagres que podiam receber de Jesus. O povo sempre estava perto de Jesus somente para buscar milagres, tanto que, certa vez, Jesus teve de orientar os discípulos a ter um barquinho à disposição caso ele fosse comprimido pelo povo que buscava seus milagres (Mc 3.9,10). Podemos chamar esse ajuntamento em torno de Jesus de A IGREJA DA MULTIDÃO. Esta igreja não conhece quem é Jesus e nem quer conhecê-lo, mas só sabe e só se importa em saber como extrair o máximo do poder de Deus para resolver seus problemas. E quais as características da igreja da multidão?

1. A igreja da multidão acredita que Jess é apenas mais uma opção de poder e milagre. Jesus era visto pelo povo como mais um semelhante a João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas (Mt 16: 14). Para muitos, Jesus não passa de mais um curandeiro poderoso, mais um deus no roll das divindades, mais uma opção na prateleira de abençoadores. Ou seja: A multidão enxerga Jesus como mais um e nada mais. Ou, na melhor das hipóteses, Jesus é considerado o maior de todos, mas nunca será o único. Por isso que temos hoje em dia há um ciclo de pessoas que encontram Jesus e logo em seguida passam para outros deuses opcionais. Ou, adicionam Jesus a sua lista de homens de Deus, curandeiros, divindades, anjos e espíritos protetores e evoluído. A igreja da multidão está aberta ao sincretismo religioso quando relativiza a identidade de Jesus aderindo uma fé genérica, subjetiva e idólatra. Mas não podemos esquecer que Jesus é singular: “Está e a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste”. (Jo 17:3).

2. A igreja da multião vê para crer ou só crê se ver. No deserto, o Diabo disse para Jesus: “Se és filho de Deus, ordena que estas pedras se transformem em pães”. (MT 4:3). O Diabo duvida da identidade de Jesus e insinua que Jesus provará que é Deus se fizer um milagre. No monte do calvário, pendurado na cruz, Jesus escuta o eco das dúvidas do Diabo na boca do povo. “E o povo estava li, olhando. E as autoridades o ridicularizavam, dizendo: Salvou os outros, então salve a si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus. Os soldados também zombavam, e aproximando-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo”. (Lc 23:35-37). Assim, a igreja da multidão tem origem no Diabo, porque tem que vê para crer, ou crê se ver. A verdadeira fé não se alimenta de milagres extraordinários, visíveis e paupáveis. O povo de Israel cansou de ver milagres quase todo dia; mas, mesmo assim, se tornou mimado, murmurador, birrento, incrédulo e idólatra. A igreja da multidão tenta Deus quando tenta provar sua existência e poder através da operação de milagres diante do público incrédulo. Além do mais, a mesma multidão de crentes que vê os milagres de Jesus, logo em seguida, rejeita suas palavras com incredulidade. A mesma multidão que recebe Jesus com louvores de "hosana, bendito o que vem em nome do Senhor" é a mesma multidão que o rejeita, clamando uma condenação enfurecida: "crucifica-o"

3. A igreja da multidão só busca Jesus por causa dos milagres. Logo após a multiplicação dos pães e peixes, Jesus é procurado pela multidão. “Quando o encontram do outro lado do mar, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui? Jesus respondeu: A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos”. (João 6:26). Jesus discerne e revela as mais íntimas motivações e intenções da multidão em buscá-lo: Satisfazer seus desejos gulosos e insaciáveis por milagres. Aqui está mais uma característica da igreja da multidão: caçar milagres independe de quem der. Por isso, essa igreja acredita em qualquer meio e esquema para receber a qualquer custo o milagre. Essa igreja descarta a vontade ética de Deus para supervalorizar exclusivamente o poder de Deus. Ou seja, essa igreja ora: "seja sempre feita a minha vontade assim na terra como no céu".

4. A igreja da multidão quer a salvação sem o salvador. No calvário, “Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: ‘Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também’”.(Lucas 23:39). Este criminoso deseja ser salvo da punição e da dor da cruz. E com isso, provoca Jesus com uma suspeita cínica e maligna quando manda Jesus demonstrar seu poder saindo da cruz e libertando os criminosos. Mas esse criminoso não entendia a necessidade da morte de Jesus; por isso que fez esse pedido absurdo. Se Jesus atendesse esse pedido, haveria milagre da anestesia efêmera da dor, mas não haveria o milagre eterno da salvação para a humanidade. Aqui podemos ver que esse criminoso representa o tipo de petições que a igreja da multidão faz a Jesus. A multidão de nossas igrejas quer ver milagre, mas fecha os olhos para o significado, propósito e efeitos da cruz. Perceba que, por amor, Jesus não faz o milagre pedido por esse criminoso: sair da cruz. Porque o poder de Jesus está no amor que, “...embora sendo Deus, considerou o ser igual a Deus, era algo que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo vindo a ser semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte e morte de cruz...” (Fp 2:6-8). Já imaginou se Jesus tentasse provar seu poder saindo da cruz no calvário? Estaríamos diante de um deus poderosamente em extrema fraqueza de caráter. Ainda bem que ele não respondeu a oração daquele criminoso. Porém, o segundo malfeitor deseja o salvador e sua salvação quando pede: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino. Jesus lhe respondeu: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso”. (Lucas23:43). Para esse criminoso Jesus na ficaria morto para sempre, mas entraria no seu Reino Eterno, uma vez que é Rei. E Jesus faz um milagre: Garantir vida eterna ao criminoso. Aqui vemos a revelação da graça de Deus em ação fazendo o milagre da salvação imerecida de um malfeitor. A igreja da multidão é uma criminosa porque blasfema contra Jesus ao querer milagres sem a cruz. Milagres sem cruz é magia, bruxaria, macumba. Milagre de Jesus sempre é pela cruz. E a cruz implica no Senhorio de Jesus. “Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”.(Fp 2:9-11).

5. A igreja da multidão recebe o milagre de Jesus e logo se esquece do Jesus dos milagres. Certa vez Jesus curou dez leprosos. Mas Jesus se admira pelo fato de que apenas um volta para agradecer quando pergunta: “...‘Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem votasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?’” (Lucas 17:17, 18). A maioria dos que recebem o milagre da cura se esquece de quem os curou. Assim também, a igreja da multidão sofre de aminésia espiritual. Quando a multidão recebe o milagre, logo se esquece de agradecer a Deus. Por isso, que a mesma multidão que entra na igreja é a mesma que sai. A igreja da multidão está sempre lotada de gente que recebe milagres pela graça de Deus, porém é uma igreja vazia de adoradores gratos e perseverantes na fé. O propósito de Jesus curar os leprosos é chamá-los a salvação e a adoração. Mas a igreja da multidão está cega para este propósito de Deus.

Você é membro da Igreja da Multidão? Você frequenta uma multidão de igrejas?

Pense nisso!

Em Cristo, o Senhor da Igreja

Jairo Filho

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