sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Onde está Deus quando estou sofrendo?

 Onde está Deus quando estou sofrendo? Onde está Deus na vida dos pais que tem filhos que nasceram com algum tipo de deficiência física? Onde está Deus na vida da Káris? Onde está Deus na vida de quem foi vítima de adultério? Onde está Deus na vida de quem faliu nos negócios? Onde está Deus na vida de quem sobrevive por meio de aparelhos no hospital? Onde está Deus na vida de quem sofreu acidente e sobrevive paralítico? Onde está Deus na crise do casamento? Onde está Deus na vida dos pais que tem filhos rebeldes e saíram de casa? Onde está Deus na vida daquela mãe que tem o filho desaparecido? Onde está Deus na vida de quem foi seqüestrado? Onde está Deus quando alguém é vítima das ciladas do Diabo? Onde está Deus na vida de quem sofre depressão ou transtorno bipolar? Onde está Deus na vida de quem perdeu tudo num terremoto, incêndio, alagamento ou acidente? Enfim: Onde está Deus na vida de quem perdeu família, bens, status social e saúde? Onde está Deus na vida de Jó? Onde está Deus quando você está sofrendo uma dor insuportável? Fazemos essas perguntas toda vez que o sofrimento assalta nosso coração de surpresa. Essa é a pergunta da fé em busca da presença de Deus na dor.

Onde está Deus na história de Jó? Parece que Deus está de braços cruzados, inerte, ausente e apático; porque foi enganado, manipulado e derrotado pelas suspeitas cínicas do Diabo, uma vez que o cenário que Jó enxerga é solidão, abandono e rejeição extrema. A sensação que temos é que bem na hora em que Jó mais precisava de seu socorro, Deus some e o abandona sozinho, ferido, pobre, enlutado, deprimido, desiludido com sua própria fé e absolutamente despido de tudo e de todos. Parece que Deus se esconde de propósito, enquanto observa Jó agonizando de dor e ouvindo seus gemidos de desespero, reclamando e se defendendo das acusações inflamadas de seus amigos. E além do mais, o sofrimento de Jó é somatizado pela crise de fé de saber que está agonizando de dor, carente, solitário e procurando no escuro Aquele a quem consagrou toda a sua vida por toda vida.

Será que podemos continuar confiando em Deus quando não o encontramos em nosso sofrimento? Como é que um Deus que diz ser nosso Pai amoroso e nos deixa órfãos no momento em que mais precisamos dele? Nessas horas, somos assaltados pela dor da traição. Por que Deus não age com poder, milagres extraordinários e maravilhas na minha vida da mesma forma que fazia nas Escrituras? Penso que nessa hora os ateus têm vantagem sobre nós, porque somente quem é ateu não se decepciona com Deus, pois nada esperam de Deus. Mas quem se entregou aos cuidados de Deus, espera sempre a sua ação, manifestação e intervenção. Por isso, essas perguntas são feitas pela fé de quem está à beira de se sentir traído e decepcionado com Deus.

Assim, entendo que o sofrimento nos leva a repensar sobre o lugar de Deus em nossa vida. O resultado dessa busca por Deus no meio da dor é uma crise de fé que abala toda nossa devoção e piedade. Pois entendo que o sofrimento é o cenário do processo de amadurecimento da fé que passa por crises, angústia mental, incertezas, dúvidas, desespero, tensão, drama e fortes emoções. Na verdade, o sofrimento revela que não existe super-crente cheio de fé o tempo todo. O sofrimento revela nossa fragilidade e carência como parte integrante de amadurecimento de fé. Penso que o livro de Jó nos ensina que Deus está presente no sofrimento para ser mais conhecido, à medida que nós conhecemos nosso próprio coração, mesmo quando nossos sentidos estão doloridos pelo sofrimento inexplicável.

Diante da crise de fé que assalta o coração de quem sofre, quero compartilhar, a partir do livro de Jó, alguns atributos de Deus que podem nos ajudar a ver, interpretar e reagir à dor no sofrimento. Agora é hora de mudar o foco: de olhar somente para nossa ferida e agora também olhar para o Deus de nossa vida. Assim, quero lembrar a sua fé alguns atributos de Deus que a história de Jó nos apresenta a partir do diálogo entre Deus e Satanás e sua conexão com o restante do drama da história.

1. DEUS É O CRIADOR DA HISTÓRIA

O drama de Jó começa após o diálogo entre Deus e Satanás. E Deus permite que Satanás seja o agente causador do sofrimento de Jó. Diante disso, surge a pergunta: Quem criou Satanás? Qual a sua origem? Respondo: Deus criou Lúcifer, e Lúcifer se transformou em Satanás. Deus criou um anjo de luz, e o anjo de luz, no exercício de sua liberdade moral, rebelou–se contra seu Criador e tornou–se Diabo. Assim, eu creio na existência do Diabo. Mas o que se entende por Diabo? C.S Lewis nos ajuda responder: “A mais comum de todas as questões a mim colocada, é se eu creio na existência do Diabo. Então, eu digo: se por Diabo você está pensando num poder em oposição a Deus, como Deus, que seja auto-existente desde a eternidade, minha resposta é não [...] Não há nenhum ser não-criado exceto Deus. Deus não tem um oposto a Ele. Nenhum ser poderia atingir maldade perfeita a fim de competir com a perfeita bondade de Deus”.

O Deus que Jó nos apresenta é o Deus que se revela como sendo o único Criador de todas as criaturas da terra, não deixando qualquer possibilidade para o politeísmo nem para o dualismo. Não há indício na Bíblia de uma ordem estranha de espíritos com um domínio rival fora do alcance do Senhor. Ou seja, não há um universo maligno, in-criado, auto-existente e auto-sustentável fora do conhecimento e alheio ao Senhor. Deus é o criador de tudo. Esse fato aponta para Cristo; pois, Cristo é o primogênito sobre toda a criação: “..porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele”. (Cl 1:16). Logo, Satanás é apenas um criatura coadjuvante, periférica e secundária na história.

2. DEUS É O TODO-PODEROSO DA HISTÓRIA

Saber que Deus é o criador de todo universo e que não existe um universo maligno desconhecido e fora do alcance de Deus, nos conduz a entender que Deus é o todo-poderoso do universo. E Jó confessa e reconhece o poder de Deus quando diz: “Bem sei que tudo podes...” (Jó 42:2).

Aplicando o poder de Deus em relação a Satanás, podemos entender que o livro de Jó nos apresenta Satanás como sendo apenas um provocador dos homens e jamais um opositor a altura de Deus. Francis Andersen nos elucida sobre a identidade e presença de Satanás na história de Jó dizendo: “A sua insolência demonstra uma mente já pervertida e longe de Deus, mas sua hostilidade não está na escala de uma potência rival. Aqui há maldade, mas não dualismo. Satanás pode ser o principal causador de confusão no universo, mas é uma mera criatura, insignificante em comparação com o Senhor. Pode fazer apenas aquilo que Deus permite que faça. Na assembléia, é mais um perturbador da ordem de que um oficial.” Ou seja, o que não se pode defender é igualdade entre Satanás e Deus. Temos que entender que Satanás é nosso inimigo e não de inimigo de Deus. Inimigo de outro é aquele que tem força semelhante. É impossível fazer qualquer tipo de comparação entre a força de Satanás e a de Deus.

O diálogo entre Deus e Satanás revela a absoluta supremacia de Deus sobre Satanás. Não podemos entender que há um duelo de dois titãs no ringue da vida lutando pela alma do mocinho num inseguro suspense e numa aposta cega e imprevisível. Mas, esse diálogo me faz olhar jamais para dois seres superiores e iguais, mas sim, apenas para Um – o supremo Deus Todo-Poderoso – e somente a ele dirigir meus gritos de angústia.

Ao ver Jó sofrendo, aparentemente, imaginamos que Satanás ganhou a “luta” e agora tem a posse da alma de Jó. Mas Deus se apresenta como todo poderoso quando limita a ação de Satanás. A presença, ação e movimento de Satanás estão limitados por uma corda firmemente segura pela mão poderosa e soberana de Deus. Perceba que Deus limita a ação de Satanás na vida de Jó ordenando: “...não estendas a tua mão contra ele...” (Jó 1:12). E ainda determina: “...poupa-lhe a vida...” (Jó:2:6). E Satanás obedece. Pois, assim como os outros anjos, ele se apresenta para dar satisfações a Deus de suas atividades na terra. Satanás tem que prestar o relatório de suas atividades na terra, e só se apresenta na história porque o Senhor Deus Todo-poderoso abre espaço para o diálogo.

Assim, a presença de Satanás na assembléia celestial demonstra sua infinita submissão e dependência como uma criatura coadjuvante nessa trama cósmica que tem o Senhor Deus Todo-Poderoso como o protagonista. Diante disso, não podemos nem subestimar nem exaltar a presença de Satanás no sofrimento dos justos. O que devemos fazer é colocar Satanás no seu devido lugar - que é debaixo da mão poderosa de Deus – na hora do sofrimento. Logo, se Satanás estiver afligindo os filhos de Deus com o sofrimento, não podemos duvidar de que o Senhor Deus Todo-Poderoso é infinitamente supremo ante ao minúsculo Satanás. “Porque eu estou bem certo de quem nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8:38, 39). Uma vez que, Cristo despojou “os principados e potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. (Cl 2:15).

3. DEUS É O SOBERANO DA HISTÓRIA

O Deus que Jó nos apresenta é Deus soberano. Jó reconhece que: “... nenhum dos teus planos pode ser impedido/frustrado”. (Jó 42:2). Isso implica dizer que Deus tem plano, agenda, métodos, modo operante de agir, estratégias, propósitos, meios, tempo, vontade que só cabem na sua mente. Isso significa que Deus realiza tudo o que ele quiser, com seus próprios meios e fins determinados e executados pela sua soberana vontade. Isso implica que muitas de nossas perguntas não terão respostas. Por exemplo: Por que Deus usa Satanás para afligir Jó? Por que Deus aceita a provocação da suspeita cínica de Satanás acerca das motivações e intenções de Jó ser obediente e justo? Deus não precisa provar nada. E por que fazer um teste num homem que é íntegro, inteiro, completo, maduro o suficiente? E por que permitir um sofrimento tão extremo na vida de um homem bom? A soberania de Deus responde com uma simples palavra: Mistério.

A confissão de fé de Westminster assim define soberania de Deus: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteradamente tudo quanto acontece... (Cap. III, 1)”. Isso implica dizer que a soberania de Deus é a manifestação da perfeição de seu ser, pela qual Ele mesmo é o Sumo bem de todas as suas criaturas. Assim, todas as decisões e ações de Deus são feitas para dar vida a todo mundo. E mediante o simples exercício de sua soberana vontade, Deus pode realizar tudo quando está presente em sua vontade e conselho. Ou seja: toda a história de Deus na tua vida tem um plano que jamais será frustrado, mesmo que nesse plano tenha dores e sofrimentos inexplicáveis.

4. DEUS É O GOVERNADOR DA HISTÓRIA

O Deus que Jó nos apresenta exerce sua soberania como o governador do Universo. Dessa forma, Deus não age no mundo tendo reações descontroladas diante de problemas e imprevistos. Para Deus não existe a idéia de notícias inesperadas. Deus nunca é pego de surpresa para solucionar problemas. Suas mãos comandam toda a história. Cada fato que acontece na história não passa desapercebido por Deus. Com isso, Deus governa como rei soberano sobre todo o universo criado.

Jó foi pego de surpresa quando soube das seqüência de tragédias, catástrofes, mortes e perdas. Mas por incrível que pareça, nada disso estava fora do olhar e do controle de Deus. Ou seja, todo drama de Jó não é fruto do acaso, da imprevisibilidade, má sorte de um destino cego e incerto, aleatoriedade inconseqüente dos fatos, carma, destino determinado e imutável. Pelo contrário, toda a história está na palma das mãos de Deus.

Não podemos esquecer que Deus tem o controle absoluto das ações de Satanás. Pois é ele quem determina seu agir na vida de Jó quando ordena: “... não estendas a tua mão contra ele...” (Jó 1:12) e “...somente poupa-lhe a vida...” (Jó:2:6). Pois a Bíblia nos diz que Deus governa sobre todos o seres humano. Deus é chamado de o “grande Rei” em (Sl 48.2), todo-poderoso (Sl 24.8), com reinado eterno (Sl 29.10) sobre toda a terra (Sl 10.16). Enfim, Deus tem o absoluto governo de tudo (I Cr 29.11,12). Nada pode frustrar e impedir a ação de seus planos (Jó 42.2). Deus é poderoso para fazer o que lhe agrada (Sl 115.3; 135.6 e Dn 4.35). Deus é soberano sobre todos os reis da terra e os mantém no seu controle (Pv 21.1; Ap 19.16; Rm 9.17; Ex 9.12,16). Não há nenhum ser humano fora do domínio poderoso de Deus. Assim, nada acontece por acaso. Ele está no controle de todos os acontecimentos da vida humana. Ele ordena e determina o curso da história antes que ela ocorra. Javé é o Senhor da história. (Dn 2.7; 4.17; Is 55.11). Assim, também Deus governa sobre todo mundo angelical. Nem o mundo invisível, nem a interferência dos anjos, demônios e Satanás na história humana ou antes da criação do mundo podem fugir do domínio soberano do Todo-Poderoso. Todos os seres invisíveis estão subordinados a cumprir os propósitos eternos do soberano Deus. Os anjos comparecem diante do trono de Javé para adorá-lo por toda eternidade (Ne 9.6; Ap 4.8-11). Por isso que os demônios e Satanás se apresentam diante do Todo-Poderoso para prestar relatório e obedecer suas ordens (Jó 1.6; 2:1). Em Jó 1.6 e 2.1, Satanás comparece ao trono do Todo-Poderoso para prestar contas de suas atividades na terra. Ele se apresenta com um servo que tem hora para chegar e para sair.

Mesmo sabendo que Satanás não é onipresente, mesmo assim, não podemos subestimar o fato que ele está ao nosso redor como o leão que busca nos tragar (I Pe 5:8). Satanás não está rodeando a terra e passeando por ela porque está ocioso, desocupado, nem fazendo turismo sem sentido e sem propósitos malignos. O Diabo espera uma brecha para agir malignamente na vida humana. Ele é nosso inimigo, ladrão, perverso, maligno, destruidor. Seu propósito é matar, roubar e destruir (Jo 10:10). Suas ciladas estão a espera daquele que estiver desatento e despreparado (Ef 6:11). Porém, não podemos entender que Satanás é sempre o único responsável pelo sofrimento de todas as pessoas e em todas as circunstâncias e histórias. Ele não está agindo no mundo de forma descontrolada. Suas atividades cruéis na terra estão limitadas ao kairós de Deus que tem o poder de amarrar e destruir Satanás no tempo em que desejar (Ap 20.2).

5. DEUS É O SENHOR DA HISTÓRIA

É interessante notar que é o Senhor, e não Satanás, quem trás a tona o caráter íntegro e a felicidade de Jó. “O Senhor disse a Satanás: 'De onde você veio?’ Satanás respondeu ao Senhor: ‘De perambular pela terra e andar por ela’. Disse então o Senhor a Satanás: ‘Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal’”. (Jó 1:7,8). Logo, Deus é quem começa a história e promove todo o drama ao apresentar seu servo Jó a Satanás e a permitir-lhe que aflija a vida de Jó com perdas e danos. E também é o Deus que determina o desfecho da história de Jó. Ou seja, o mesmo Deus que começou a história é o mesmo Deus que terminará de contá-la. Mesmo não entendendo seu drama, Deus está na tua história o tempo todo e sabe o momento exato de agir.

Ilustração: Conta-se que uma bordadeira tinha seu filho sempre brincando aos seus pés enquanto bordava. Seu filho olhava para cima e não conseguia entender o trabalho de sua mãe, pois só enxergava fios e linhas desconexas e tortas. E sempre perguntava: ‘Mamãe, o que a senhora está fazendo?’ Mas, mesmo sua mãe respondendo, ele não entenderia a necessidade de ter um emaranhado de fios e linhas no processo da costura de roupa para protegê-lo do frio. Certa vez sua a mãe colocou seu filho no colo e, enfim, seu filho olhou de cima para baixo e viu a obra de sua mãe pronta. Naquele momento, seu filho entendeu o resultado da obra das mãos de sua mãe. Assim, Deus um dia nos colocará em seu colo de amor e nos revelará como ele escreveu a história de nossa vida.

Ele é o Tapaceiro da vida.


E mesmo Jó não sabendo toda a explicação da origem do sofrimento, ele conseguiu entender os planos de Deus sobre a vida. No final, quando olhamos nossa vida pela ótica de Deus, mudamos a expressão de choro para alegria e celebração.

Diante dessas verdades a cerca do caráter de Deus, a pergunta: “Onde está Deus quando estou sofrendo?” deve ser mudada para: “Onde está minha fé em Deus quando estou sofrendo?” Entendo que o sofrimento dos justos é um convite a adoração, e essa adoração vai despir nosso coração para transformá-lo. Assim, o sofrimento é usado por Deus para moldar nosso caráter.

Em Cristo, o Deus conosco.

Jairo Filho

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